Hanna-Barbera e Filmation: quadrinhos made in Brazil


Continuando a série sobre quadrinhos licenciados no Brasil, novamente sobre a produção de quadrinhos baseada em animações dessas duas produtoras, nele, comentando o que já foi levantado da produção local.




Hanna-Barbera

Os quadrinhos da Hanna-Barbera começaram a ser publicados no Brasil em 1960 pela Editora O Cruzeiro, empresa do grupo Diários Associados.  Os títulos iniciais foram Dom Pixote (1960), Os Flintstones, Os Jetsons e Zé Colmeia (1963) e Pepe Legal. As histórias eram oriundas de revistas publicadas originalmente pelas editoras Dell e pela Gold Key Comics.

Em Fevereiro de 1970, a editora lança as revista Almanaque Super-Heróis da TV (4 edições) e Almanaque Heróis da TV (7 edições), inspiradas na Hanna-Barbera Super TV Heroes da Gold Key e como os títulos sugerem, traziam os heróis e super-heróis da empresa. A editora ainda publicaria em 1972, o Almanaque Os Banana Splits, último título inspirado em uma produção da Hanna-Barbera. No mesmo ano, a Editora Abril lança o mix Os Flintstones e Outros "Bichos", com histórias de Os Jetsons e Zé Colmeia, Manda-Chuva, entre outros, o título foi publicado até 1978 e teve 38 edições, esse mix trazia não apenas os heróis da empresa, mas também os personagens humorísticos.

A Abril já possuía uma vasta produção de quadrinhos Disney, contudo, seus artistas não eram devidamente creditados. Para a identificação, adotou-se um código de produção, as histórias locais eram identificas pela letra B, seguida por números, o mesmo ocorreu com os personagens da Hanna-Barbera, Joerly Nascimento Santos roteirizou uma história de Olho Vivo e Faro Fino publicada na edição 15.


Os Flintstones e Outros "Bichos #15


Em 1975, a editora O Cruzeiro, fecha as portas. Nesse mesmo ano, a Editora Abril lança a revista Heróis da TV. Na revista Heróis da TV também foram publicadas histórias de código B: Rodolfo Zalla (Shazzan e Tor), Walmir Amaral  (Herculóides), Rubens Cordeiro (Herculóides), Eduardo Carlos Pereira, Dag Lemos, Fernando Ikoma, Primaggio Mantovi (Herculóides e Shazzan), Ivan Saindenberg (Herculóides, Mightor, Space Gost, Homem-Pássaro, Scooby Doo, Esquadrilha Abutre), a revista também foi publicada até 1978, totalizando 32 edições. Ainda em 1978, a Rio Gráfica Editora (RGE) das Organizações Globo, consegue a licença dos quadrinhos, a produção brasileira fica a cargo do Estúdio de Ely Barbosa, Eduardo Vetillo produz histórias de Falcão Azul e Dinamite, o Bionicão, Capitão Caverna e Jana das Selvas (ao que parece, a personagem só teve Hqs produzidas no Brasil), Tony Fernandes e Wanderley Felipe também passaram pelo estúdio, Ataide Braz roteirizou uma única história de Falcão Azul, personagem que também teve uma história por Ivan Saindenberg (assinando como o nome da esposa, Thereza). Em 1980, a Abril assume novamente os títulos, algumas histórias locais foram produzidas, Marcelo Aragão roteirizou histórias de Elefantástico e Rabugento, a editora seguiu publicando histórias da Hanna-Barbera até 1994.


jana eduardo vetillo
Jana das Selvas por Eduardo Vetillo




manda-chuva top cat Napoleão Figueiredo editora abril
Capa do Almanaque do Manda-Chuva #1 (1993), assinada por Napoleão Figueiredo




Filmation

Em outra ocasião, esse blog explicou o surgimento da série animada He-Man e os Defensores do Universo.


Em 1986, a Editora Abril lançou a revista "Quadrinhos Star apresenta: He-Man", embora a franquia já tivesse HQs publicadas pela própria Mattel e DC Comics, os primeiros quadrinhos a chegar no Brasil foram baseados na animação. As primeiras histórias eram quadrinizações dos episódios do desenho e as demais, oriundas da revista publicada pelo selo Star Comics da Marvel, com o término das histórias da Marvel, rebatizada como He-Man and the Masters of the Universe a partir da edição 15, a editora resolveu investir em histórias locais e publicar material britânico da London Edition Magazines. Participaram dessa fase, os desenhistas Rodolfo Zalla, Rodval Matias, Roberto Kussumoto, Noriatsu Yoshikawa, Fernando Bonini, Álvaro Omine, Watson Portela e os roteiristas Luiz Antonio Farah de Aguiar, José Menezes, Walter Vetillo e Gedeone Malagola.  No mesmo ano, o jornal O Globo publica tiras do herói aos domingos no Globinho SuperColorido e durante a semana no Segundo Caderno.



A revista da Abril foi publicada até 1988 e durou 32 edições,Em 1987 a Abril ainda publicou a revista He-Man and the Masters of the Universe (2 edições) que republicou histórias do mix. No mesmo ano, a fabricante de brinquedos Estrela, que possuía a licença dos brinquedos no país, lança a minicomics "Masters of The Universe" que acompanham os bonecos, que foram produzidas pelo estúdio de Dorival Lopes, ex-funcionário da Abril, Joerly Nascimento Santos foi um dos roteiristas da revista, que teve 9 edições.




A franquia teve um spin-off, She-Ra: A Princesa do Poder (1985), que contava a história de Adora, a irmã-gêmea do Príncipe Adam. Em 1988, a Abril lança uma revista para a heroína: She-Ra:Princess of Power, com histórias produzidas por Luiz Antonio Farah de Aguiar, Watson Portela e Roberto Kussumoto, a revista durou 12 edições. No ano seguinte, a Estrela publica seis edições de um minicomics: Princess of Power.


she-ra





No mesmo ano, lança a revista Bravestarr em quadrinhos, desenho do gênero "faroeste espacial" (tal qual The Adventures of the Galaxy Rangers) que tinha sido produzido no ano anterior. A revista trazia capas e histórias da revista italiana Masters of the Universe da Mondadori, que também publicava histórias de Voltron, uma série criada com a junção dos animes de mecha Beast King GoLion e Armored Fleet Dairugger XV, (embora nenhuma das séries fossem propriedades da Mattel), publicada em 1987. A editora Mondadori durante anos produziu e publicou os quadrinhos Disney no país, e histórias locais por Luiz Antonio Farah de Aguiar, Watson Portela e Roberto Kussumoto, Marcelo Campos (tanto como desenhista, como roteirista), Mozart Couto, Álvaro Omine, Franco de Rosa, Donizeti Amorim, Toninho Lima, Moacir Torres (arte-final) e Moacir Rodrigues Soares (capa), a revista também durou 12 edições.


bravestarr
Revista italiana Masters of the Universe e a brasileira Bravestarr



Bravestarr #11 capa de Moacir Rodrigues Soares 




Existiram outros quadrinhos do herói pelo mundo, e nas edições #27 e 40 (1987) da Blackthorne 3-D da Blackthorne Publishing, foram publicadas histórias escritas por John Stephenson e desenhos de Adrian Moro. Houve também uma revista de duas edições pela editora norueguesa Semic publicada em 1988 que também foi publicada junto com He-Man e Voltron na revista italiana Magic Boy, além da revista Bravestarr Annual publicada entre 1986 e 1990 pela inglesa World Distributors. Não há indicação dos autores dessas duas publicações e confirmações se foram publicadas no Brasil. O mesmo acontece com as de He-Man.

Notas adicionais

Hoagi, um vilão de O Poderoso Tor criado na Gold Key, foi usado em uma história de código B, publicada em Heróis da TV #25 (junho de 1977),  roteirizada por Ivan Saidenberg, mais detalhes no blog de Lucila Saindenberg, filha do roteirista.

Na Itália, Romano Scarpa, famoso quadrinista Disney, também produziu quadrinhos da Hanna-Barbera nos anos 60.

A Editora Abril publicou na mesma época, outra revista do selo Star: Quadrinhos Star apresenta: Thundercats.

Nos anos 80, outras editoras publicaram quadrinho da Hanna-Barbera: Cedibra (Manda-Chuva e Scubidu), Works (Movie Kids), A Tribuna (Os Flintstones Nos Anos Dourados), Best News (Jonny Quest)


Agradecimentos a Wagner Moloch, Ataide Braz, André Lopez, Ben Santana e Toni Rodrigues


Ver também

Bravestarr em lianhuanhua


Fontes e referências

Biografia - Primaggio Mantovi

Nobu Chinen. Primaggio Mantovi, o mestre de estilo versátil, Marsupial Editora, 2014

Extraducks!

Itália: Braccobaldo presenta gli Antenati (non-Disney) No. 82

Itália: Braccobaldo presenta Festival di Hanna-Barbera (non-Disney) No. 5

He-Man.org - Comics

Hanna- Barbera - gibis

Os Homens-Formiga

He-Man and the Masters of the Universe #15

Jana das Selvas

Grand Comic Database - Bravestarr

Quebra-Queixo

Almanaque Super-Heróis da TV #1

Heróis da TV 1ª série #1

Heróis da TV 2ª série #1

Minha passagem pelos Quadrinhos dos Trapalhões

Reencontro com o Mestre

The Flintstones Frequently Asked Questions List

The Flintstones Frequently Asked Questions List

Inducks - Production and Story Codes

60 Anos Bem Contados: 1981-1990 (Parte 1 de 4)

Entrevista: Tony Fernandes

Memo Magazine - Rodolfo Zalla

Those Groovy Saturday Mornings: A Mighty Mightor Saturday Double-Play

Blackthorne 3-D Series (1985) - #27

Magic Boy

Guia dos Quadrinhos

Os implacáveis quadrinhos de faroeste

A Ameaça dos Homens Macaco

Confins do Universo 009 – Especial Hanna-Barbera

Entrevista - Eduardo Carlos Pereira: O grande “Edú”

Comentários

rodineisilveira disse…
Nas três primeiras edições de Os Flintstones e Outros "Bichos", as estórias apresentadas foram todas elas editadas originalmente nos EUA pela Charlton Comics no começo dos anos 70, com destaque para a arte de Ray Dirgo.
A partir da edição 4 desta mesma revista (em março/73), a Abril passou a editar o material editado originalmente nos EUA pela Dell/Gold Key nos anos 60, cujas estórias foram desenhadas por feras como Harvey Eisenberg (o "Carl Barks da Hanna-Barbera), Pete Alvarado (que também estava envolvido com animação), Phil de Lara (que foi animador da Warner), Veve Risto (também animador), John Carey (também animador), Tony Strobl (que também trabalhou com os quadrinhos Disney) e muitos outros.
Quiof disse…
obrigado, não havia conseguido essa informação antes,
Jefferson Leite disse…
Falando em Quadrinhos Star, esse selo da Marvel tinha umas hqs bem legais baseadas em desenhos, pena q nem todas estrearam no Brasil e as q estrearam não tiveram todas as edições por aqui... o Asterói mesmo, q tinha sua hq seriada publicada em Moranguinho, não teve final aqui no Brasil!
rodineisilveira disse…
A Star Comics, que era a divisão infanto-juvenil da Marvel Comics, trazia estórias desenhadas pelos mesmos artistas da Harvey Comics, como os lendários Howard Post e Warren Kremer.

rodineisilveira disse…
Um pequeno adendo: a revista dos Flintstones editada pelo Cruzeiro, foi lançada no final de 62, aproveitando o sucesso que a série de TV estava fazendo, quando foi exibida na época pela saudosa Rede Tupi.