Charlie Chan

Charlie Chan é um detetive sino-americano residente no Havaí (um arquipélago no Oceano Pacífico pertencente aos Estados Unidos), criado por Earl Derr Biggers para o romance The House Without a Key, publicado em 1925.


Biggers afirma que se inspirou em dois policiais sino-americanos de Honolulu no Havaí, Chang Apana e Lee Fook.  O personagem é diferente do chamado "perigo amarelo" com  personagens como Fu Manchu, embora também seja estereotipado. O personagem estrelou outros cinco romances: The Chinese Parrot (1926), Behind That Curtain (1928), The Black Camel (1929), Charlie Chan Carries On (1930) e Keeper of the Keys (1932). O autor planejava outras histórias, mas viria a falecer em 1933.



Em 1934,  Hugh Wile cria o detetive chinês Mr. Wong, o personagem teve 12 contos publicados na revista Collier's Weekly, entre 1934 e 1938.  Esses contos seriam reunidos em 1951 no livro Murder by the Dozen.

Em 1935, o escritor John P. Marquand cria o detetive japonês Mr. Moto para a popular revista Saturday Evening Post. Marquand publicou quatro romances em capítulos na revista até 1938. Em 1941, inicia a publicação do romance Last Laugh, Mr. Moto nas páginas da Collier's Weekly. O personagem deixou de ser publicado por conta do ataque japonês a base área americana de Pearl Harbor, no Havaí,  em 7 de Dezembro de 1941.  Em 1956, ele volta a ser publicado na Saturday Evening Post, com o romance Right You Are, Mr. Moto (renomeado como Stopover: Tokyo e The Last of Mr. Moto em futuras republicações em livros). Encerrado em 1957, Marquand viria a falecer três anos depois.




Em 1926, Chan ganhou a primeira adaptação para o cinema mudo,  no seriado cinematográfico The House Without a Key da Pathé Studios, estrelado pelo japonês George Kuwa,no ano seguinte, a Universal Pictures lança o filme The Chinese Parrot, estrelado por outro japonês, Kamiyama Sojin. Em 1929, a Fox Film Corporation (que em 1935 se fundiria com a Twentieth Century Pictures para formar a 20th Century Fox), lança Behind That Curtain, estrelado pelo coreano E.L. Park.  Trata-se do primeiro filme falado do detetive. Em 1931, o estúdio adapta Charlie Chan Carries On.  Dessa vez, o detetive é interpretado por um ator ocidental (pratica conhecida como yellowface), o sueco Warner Oland, que havia interpretado Fu Manchu em The Mysterious Dr. Fu Manchu (1929), The Return of Dr. Fu Manchu (1930) e Daughter of the Dragon (1931), todos pela Paramount.  Nesse mesmo ano, na Espanha, é lançado o filme Eran Trece, uma versão de Charlie Chan Carries On, estrelada por Manuel Arbó e Oland estrela The Black Camel.  




Oland estrelou outros 14 filmes até 1937.  Ainda em 1937, a Milton Bradley Company lança o jogo de tabuleiro The Great Charlie Chan Detective Mystery Game. Também é lançado o filme cubano La Serpiente Roja, estrelado por Aníbal de Mar.  Na China, Xu Xinyuan interpreta Chan em The Disappearing Corpse e a Fox também lança a série de Mr. Moto nos cinemas com  Peter Lorre interpretando Moto nos filmes Think Fast, Mr. Moto e Thank You, Mr. Moto.  Em 1938, Oland estrelaria o filme Charlie Chan at Ringside, contudo, o ator abandona o projeto em janeiro do mesmo ano, em março ele chegou a ser anunciado para outro filme, Charlie Chan on the Clipper Ship, porém, o ator veio a falecer em agosto e o estúdio resolve adaptar o roteiro para um filme de Mr. Moto: Mr. Moto's Gamble, estrelado novamente por Lorre.  O ator chinês Keye Luke (o Kato dos seriados do Besouro Verde e Mestre Po da série Kung Fu), que interpretou  Lee, o filho número um de Chan, entre 1935 e 1937, reprisa o papel em Mr. Moto's Gamble, fazendo que as duas séries cinematográficas sejam interligadas.  



Warner Oland e Keye Luke


A Monogram Pictures lança Mr. Wong, Detective, estrelado pelo inglês Boris Karloff , que também interpretou Fu Manchu em The Mask of Fu Manchu (1932) produzido pela Cosmopolitan Productions e distribuído pela Metro-Goldwyn-Mayer.  Sidney Toler passa a defender o personagem em Charlie Chan in Honolulu, Jimmy Chan, o filho número dois substitui Lee Chan.  O novo personagem é interpretado por Victor Sen Yung, que havia participado de Thank You, Mr. Moto (1937), embora não tenha sido creditado.  Xinyuan estrela outro filme, The Pearl Tunic.  Chan ganha tiras de jornal, distribuídas pelo McNaught Syndicate e desenhadas por Alfred Andriola (ex-assistente de Milton Caniff e Noel Sickles), tanto em pranchas dominicais coloridas, quanto em tiras diárias em preto e branco.  Andriola foi escolhido pelo próprio Biggers.  




No ano seguinte, é lançado mais três filmes com Toler e um outro com Xinyuan e Lorre estrela o oitavo e último filme da série Mr. Moto, Mr. Moto Takes a Vacation.  Entre julho de 1939 e abril de 1940, as tiras de Chan são republicadas na revista em quadrinhos Feature Comics da Quality Comics, em maio, começam a ser publicada na revista Big Shot Comics da Columbia Comics (uma editora fundada pelo McNaught Syndicate em associação com Vin Sullivan), sendo publicadas até janeiro de 1947. São publicados dois Big Little Books (também chamados de tijolinhos no Brasil, trata-se de uma espécie de pequenos livros ilustrados que muita das vezes usava artes de tiras de quadrinhos) pela Whitman Publishing Company: Inspector Charlie Chan of the Honolulu Police (1939) e Charlie Chan Solves a New Mystery (1940), ambos ilustrados por Alfred Andriola.  A editora também publicou Charlie Chan Card Game, cuja caixa teve a mesma ilustração da capa de Inspector Charlie Chan of the Honolulu Police.

Em 1939, a  a revista Popular Comics, da Dell, publica histórias protagonizadas por Mr. Wong e ilustradas por Jim Gary, assim como uma quadrinização do filme The Mystery of Mr. Wong ilustrada por Tom Hickey.








Ainda em 1940 são lançados nada menos que seis filmes com Toler e um com Xinyuan, Charlie Chan Smashes an Evil Plot, e depois outros quatro filmes com Karloff.  Entre 1938 e 1940, o estúdio lança um reboot estrelado por Keye Luke: Phantom of Chinatown (1940).  As tiras de Charlie Chan são canceladas em 1942.   No mesmo ano, a Fox lança seu último filme, Castle in the Desert. Toler resolve comprar os direitos da franquia e continuar interpretando o personagem, agora na Monogram.  Victor Sen Yung passa a servir na Guerra pelo exército dos Estados  Unidos. Em 1944, Benson Fong entra para o elenco de Charlie Chan in the Secret Service como Tommy Chan, o filho número três,  participando de outros cinco filmes entre 1944 e 1946. Também em 1944, estréia o ator afro-americano Mantan Moreland como Birmingham Brown, o motorista de Chan. Victor Sen Yung volta para a franquia em 1946, interpretando Jimmy Chan pela última vez em três filmes: Shadows Over Chinatown, Dangerous Money e The Trap. Toler estrelou outros 15 filmes pela Monogram, entre 1942 e 1946, vindo a falecer em 1947.




Cly Kendall, Sidney Toler e Beson Fong em The Chinese Cat(1944)


Ainda em 1947, a Monogram lança um novo filme, estrelado por Roland Winters, o filme The Chinese Ring (1947) cujo roteiro lembrava muito o de outro filme da produtora,  Mr. Wong in Chinatown.  Nesse filme, Victor Sen Yung passa a interpretar Tommy Chan e  no ano seguinte, o ator estrela outros quatro filmes.  Xu Xinyuan protagoniza seu último filme do personagem, Charlie Chan Matches Wits with the Prince of Darkness.  A Prize Comics lança uma revista em quadrinhos solo de Charlie Chan, desta vez com histórias inéditas, com capas assinadas por Jack Kirby e Joe Simon e histórias ilustradas por Dick Briefer e Carmine Infantino. A revista foi publicada até 1949 e teve cinco edições. Em 1948, Keye Luke volta a interpretar Lee Chan em The Feathered Serpent.Victor Sen Yung interpreta Tommy Chan pela última, esse foi o único filme em que ambos os filhos aparecem juntos. Em 1949, Roland Winters interpreta Chan pela  última vez em Sky Dragon, que também conta com a participação de Luke e Moreland. Em 1950, Lee Ying dirige e estrela na China, Mystery of the Jade Fish. Em 1955, é lançada a terceira e última produção hispânica, El Monstruo en la Sombra, estrelado por Orlando Rodriguez como "Chan Li Po" (Charlie Chan no roteiro original). A película é inspirada tanto no cubano  La Serpiente Roja, como nos filmes com Warner Oland.



Chan foi adaptado para o rádio por três emissoras diferentes: NBC Blue Network, Mutual e  ABC. Em 1932, foi interpretado por Walter Connolly em Esso Oil's Five Star Theater. Em 1944, a NBC estreia The Adventures of Charlie Chan, interpretado por Ed Begley, Sr. até 1945. Entre 1947 e 1948, foi defendido por Santos Ortega. Rodney Jacobs atuou como Lee Chan, o filho número um e  Dorian St. George foi o locutor.

Em 1955, a Charlton lança uma nova revista do detetive, continuando a numeração da Prize. A revista teve apenas quatro edições, tendo a primeira capa por Jack Kirby e Joe Simon e algumas histórias por Charles Nicholas. Em 1957, surge a série de televisão The New Adventures of Charlie Chan, estrelada por J. Carrol Naish, James Hong,ator sino-americano, atuou como Barry Chan, filho número 1. A série teve apenas uma temporada de 39 episódios. Em 1958, a DC Comics lança a revista The New Adventures of Charlie Chan, que teve apenas seis edições, produzidas por Julius Schwartz e John Broome (roteiros) e Sid Greene e Morris Waldinger (desenhos). Em 1965, a Dell publica a revista Charlie Chan,  ilustrada por Frank Springer (duas edições). A Fox lança o último filme de Mr. Moto, The Return of Mr. Moto, estrelado por Henry Silva.





De acordo com algumas fontes, o produtor William Dozier pretendia fazer uma série sobre Lee Chang intitulada "Number One Son", estrelada pelo então desconhecido Bruce Lee, mais tarde Dozier lançou uma série do Batman para a Fox e logo em seguida, O Besouro Verde, com Bruce Lee interpretando Kato, o assistente do Besouro Verde (outro papel de Keye Luke no cinema).

Lee menciona em uma entrevista



Em 1972, a Hanna-Barbera lança a série animada The Amazing Chan and the Chan Clan, o detetive sendo dublado por Keye Luke. A série era focada nos filhos de Chan e teve apenas uma única temporada de 16 episódios. A Gold Key publica uma revista em quadrinhos baseada na série, com algumas histórias roteirizadas por Mark Evanier e ilustradas por Warren Tufts.  A revista teve apenas quatro edições.


Em 1973, Chan retorna aos cinemas em The Return of Charlie Chan (também conhecido como Happiness is a Warm Clue), estrelado por Ross Martin.

Em 1981, é lançado o último filme de Chan, Charlie Chan and the Curse of the Dragon Queen, estrelado pelo inglês Peter Ustinov, o filme foi alvo de protestos pelo ator não ser asiático. 



Na década de 1990, a Miramax chegou a anunciar um projeto, mas não se concretizou e na década de 2000, a Fox anunciou que Lucy Liu irá estrelar um novo filme, que está em produção desde 2009. Liu também é produtora-executiva.

Em 2003, a Moonstone Books publicou a mini-série em três edições Welcome Back, Mr. Moto por Rafael Nieves (roteiro) e Tim Hamilton (desehos). Nessa história, é estabelecido que Moto é filho de nipo-americanos que ajuda outros nipo-americanos após a Segunda Guerra.

No Brasil, os livros foram publicados na década de 1950 pela Vecchi, as tiras foram publicados pelo jornal O Globo de Roberto Marinho entre 1939 e 1942 e nas revistas Gibi, o Big Little Book Inspector Charlie Chan of the Honolulu Police foi publicado na Coleção Gibi (1942) e em  O Globo Juvenil, em 1948.  A revista O Lobinho da Grandes Consórcios Suplementos Nacionais publicou histórias da Prize. O personagem também foi publicado em Gibi Mensal.  Em 1956, a Rio Gráfica Editora (fundada em 1952 e que assumiu os títulos do jornal O Globo) lança a revista Scotland Yard Magazine com histórias da Charlton.  A revista era um mix, tal como faria em Agente Secreto na década seguinte.  O título se referia a Scotland Yard, nome da sede da polícia de Londres e que é usada popularmente para chamar a Polícia Metropolitana ou a polícia judiciária de Londres. A editora aproveitou o título de outra revista da Charlton de mesmo nome (4 edições, 1955-1956),  onde foi publicado o Inspector Farnsworth, que acabou sendo chamado de Inspetor Wade e Inspetor Kirk por aqui. Wade era um personagem do escritor Edgar Wallace (1875-1932) que havia sido adaptado para tiras de jornal distribuídas pela King Features por Sheldon Stark (roteiro), Lyman Anderson e Neil O'Keeffe (desenhos) e publicado no Brasil nas páginas do Suplemento Juvenil entre as décadas de 30 e 40.  Além de Chan e Farnsworth, foram publicadas histórias de outros detetives, como Ken Shannon da Quality.  Na edição 427 da revista piulp X-9 do jornal O Globo publicou a novela Charlie Chan na Broadway de Edward Churchill, publicada em 1937 na revista Popular Detective baseada no filme Charlie Chan On Broadway estrelado Warner Oland, lançado no mesmo ano. Fonte: The Charlie Chan Family Bulletin Board



Em 1960, a editora O Cruzeiro publicou histórias da revista de Charlie Chan pela DC em O Guri e com o término dessas histórias, a editora encomendou histórias locais,  onde  Chan atua no Rio de Janeiro. José Geraldo e Getúlio Delphim estão entre os artistas que produziram as histórias, apesar desses artistas não serem creditados.  As histórias eram atribuídas a "Equipe O Cruzeiro". Charlie Chan no Rio de Janeiro já havia sido mostrado no filme da Fox, Charlie Chan in Rio (1941), estrelado por Sidney Toller.

Gibi Mensal #135, arte de Luiz Fernando Guimarães, mais conhecido como Lutz








Em Mestre Kim #7, na história Ameaça Biológica - Tony Carson/Antônio Ribeiro e Luiz Aguiar (roteiro) e Eugênio Colonnese (desenhos e arte-final), publicada pela Bloch Editores em 1991, o protagonista encontra um inspetor de policia parecido com Charlie Chan em Seul, na Coréia do Sul.




Fontes

Wikipédia

Comic Book Plus



Jornal da ABI # 362 - Cronologia dos Quadrinhos - Parte 2 - Ota e Francisco Ucha 
(Janeiro de 2011)

Mattos, A. C. Gomes de. A Outra Face de Hollywood: Filme B. [S.l.]: Rio de Janeiro: Rocco. 

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