Entrevista: Ataide Braz


Há um tempo, venho com a ideia de fazer entrevistas no blog, o roteirista Ataide Braz gentilmente concedeu uma entrevista inaugural.



Ataide Braz (1955), é roteirista de quadrinhos nascido em Pernambuco. Inicio a careira em 1978 na revista de terror Spektro da Vecchi, editada por Ota (Otacílio Costa d'Assunção Barros), que já editava a satírica Mad, logo em seguida, passou a colaborar com a Grafipar, editora de Curitiba capitaneada por Claudio Seto, pioneiro do estilo mangá com Minami Keizi na EDREL nos anos 60 e começo dos anos 70, na Grafipar, Ataide publicou quadrinhos eróticos com os amigos Roberto Kussumoto e Sebastião Seabra, a editora não durou muito tempo, sendo encerrada em 1982, em 1985, iniciou a publicação de Drácula, a sombra da noite, ilustrada por sua esposa, Neide Harue, a HQ é notória por ser em estilo mangá, Neide pode ter sido a primeira mulher desenhista influenciada pelos mangás profissionalmente no Brasil. Outra pioneira, Luri Maeda, ilustrou Sonata para o Verbo "Amar", publicada pela Nova Sampa na revista Mistérios das Trevas. Na RGE (Rio Gráfica Editora), chegou a roteirizar uma HQ de Falcão Azul e Bionicão da Hanna-Barbera.





Ataide Braz, Claudio Seto e Roberto Câmara nos tempos da editora Grafipar



História públicada em Spektro #5 (março de 1978), arte de Roberto Kussumoto


Em 1989, publica Skorpion - Arma Mortal  pela Veija Comunicação Publicitária e Editorial, com desenhos de Neide Harue.a revista teve apenas uma edição. No mesmo ano, escreveu histórias de Jaspion e Changeman para a EBAL através do Studio Velpa, com desenhos de Neide Harue e Roberto Kussumoto, cores de Luri Maeda e Orlando Sudário e letras de Edson Kohatsu. Também nessa época, foi agenciado pela agência belga Commu International, que agenciou artistas brasileiros para o mercado belga e holandês, Ataide e Neide publicaram uma nova HQ de Drácula, exclusivamente para o mercado europeu.

Em 1990, roteirizou uma HQ de Zillion, um anime da Tatsunoko, baseada na pistola de Master System da Sega, a HQ foi desenhada por Roberto Kussumoto, publicada pela Editora Abril na revista Misto Quente, que misturava álbum de figurinhas com histórias em quadrinhos.  A Nova Sampa lançou uma continuação de Drácula, intitulada Um Vampiro no Ragtime.

Em 1994, também pela Nova Sampa, publicou a graphic novel Mulher-Diabo no rastro de Lampião, desenhada pelo veterano Flavio Colin.




Colaborou com os manuais de quadrinhos publicados pela Editora Escala.

Em 2012, publicou uma versão e-book de Drácula, A Sombra da Noite pela Inventta Editora.






Em 2013 publica o livro juvenil Velozes e Vorazes, com ilustrações de Mozart Couto e capa de Arthur Garcia, o livro foi distribuído em bancas pela Editora Minuano e fazia parte da Coleção Graphic Light, produzida pelo estúdio Free de Franco de Rosa, porém, nenhum outro livro foi publicado.


Em 2014, Ataide e Neide publicam Vamos Aprender A Desenhar Mangá pela 
Editora Criativo, em 2017, a editora publica um Sketchbook de Neide na coleção Sketchbook Custom durante a Sketchcon II. Em 13 de outubro de 2019,  durante a Sketchon III, no Jazz Restô e Burgers em São Paulo, a editora fez o lançamento de um álbum de Um Vampiro no Ragtime pelo selo Graphicbook, usando a capa publicada na Europa. A editora também disponibilizou uma pré-venda na sua loja virtual, com entregas a partir de 14 de outubro de 2019.





       









Como já há duas entrevistas disponíveis na internet, uma por Gian Danton, outra por Tony Fernandes, resolvi não repetir perguntas.



Quadripop: Quais são as suas influências como escritor?

Ataide: Bom, vejamos. Quando penso nas minhas influências três autores surgem em néon na minha mente: Fernando Ikoma, Will Eisner e Claudio Seto.


O Ikoma foi o primeiro. Eu estava cansado das histórias do Batman, Superman, etc. No esqueleto todas as histórias eram iguais, repetições. Então ao conhecer a Edrel fiquei encantado. O que mais me chamou atenção na época foi o Ikoma com o Fikom, Satã – Alma Penada, etc. Ele me influenciou muito na minha fase intuitiva: Manco Capac: Caçada Mortal/Jaciara/Semente do Mal e Noite da vingança.


Depois veio o Spirit e me fascinei pela técnica. As histórias mais marcantes desta fase são: 5 grau, Curupira (desenhada pelo Sebastião Seabra) Mulher Diaba no rastro de lampião (desenhada pelo Colin).

O Claudio Seto foi uma forte influencia como autor e ser humano. Os longos papos madrugada a dentro me ajudaram muito a formar o meu caráter e minha formação como autor. Quem conheceu o Seto sabe como ele gostava destes papos na madrugada em seu estúdio. E foi uma forte influência  para quem teve a sorte de conhece-lo pessoalmente.

E foi nessas conversas que percebi que poderia ser intuitivo, técnico e emocional. O quadrinho mais marcante desta fase é o Drácula, a sombra da noite.

Quadripop: Como foi a sua entrada e período na ABRADEMI (Associação Brasileira de Mangá e Ilustração)?

Ataide: O Kussumoto me chamou para entrar Abrademi. E assim eu e a Sônia Luyten éramos os únicos ocidentais na associação. A Sônia, uma professora conhecida e respeitada, no Brasil e Japão, foi aceita pelo presidente  da Associação Japonesa sem problema. Mas ele quis vetar a minha presença. Então não participei muito. Essa participação seria nula em minha vida se não estivesse indiretamente ligada ao fato que me levou a conhecer a Neide Harue. 

Não tenho muito o que falar a respeito, mas a associação foi importante na formação de muitos desenhistas que não encontravam espaço no mercado por terem estilo mangá. Como a Neide Harue, Luri Maeda e Edson Kohatsu.

Quadripop: Sobre o Studio Velpa, como surgiu o convite de entrar na equipe?

Ataide: Na época eu, o Kussumoto, Orlando Sudário (roteirista), o Edson Kohatsu e Luri Maeda formamos um estúdio. O Kussumoto foi convidado pela Velpa para fazer os desenhos das histórias que seriam publicadas pela Ebal.

Quadripop: Vocês viam os episódios das séries na televisão para poder produzir as histórias? 

Ataide: Sim. Eu assistia os episódios, alguns fornecidos pelo Velpa. Tínhamos que fazer a adaptação. Acredito que era exigência da Ebal. Mas não posso afirmar com certeza. Não tinha nenhum contato direto com a Editora ou o Estudio Velpa.

Quadripop: Como foi a adaptação das encenações de Jaspion e Changeman no álbum de Figurinhas "O Fantástico Show do Jaspion" publicado pela Editora Cromy, era outra produção do Studio Velpa? você e o desenhista Roberto Kussumoto foram ver essas apresentações?

Ataide: Sim fomos assistir ao show e depois me foi fornecido fotos e com isso desenvolvi o roteiro do álbum. E acho que era produção do Velpa. O contato era do Kussumoto.



Quadripop: Na edição 9 de Quadrinhos da EBAL, foi publicada uma história sua de Goggle V, mas tirando o nome, todos os elementos eram de outro grupo, o Flashman, essa mudança foi por causa da ida de personagens para a Editora Abril ou seria uma confusão? 

Ataide: Não sei informar. Tenho vaga lembrança de ter escrito um roteiro do Flashman. Mas não acompanhei o processo. Na época eu estava envolvido em fazer HQs para a Commu International. E minha atenção estava toda voltada para esse trabalho.  Mas curti muito escrever os roteiros do Changeman, muito mais do que os do Jaspion.





      O robô Mag de Flashman em Quadrinhos 7 série #9, roteiro de Ataide Braz e arte de Neide Harue

Quadripop: Como foi a publicação de Drácula, a sombra da noite e Um Vampiro no Ragtime, ilustradas pela Neide Harue? 

Ataide: Foi complicado. Tínhamos uma ideia e o mercado muito dogmático que não queria ousar, mudar o preconcebidos. Apesar de ter feito muitas concessão no primeiro número foi rejeitado pelas editoras. Por causa do roteiro e também dos desenhos. O Drácula foi publicado em sociedade com a Editora Nova Sampa. E foi um sucesso. E surpreendeu ao conquistar um publico feminino. 




Quadripop: Como surgiu o convite de trabalhar pra Commu (agência belga que publicou brasileiros no mercado europeu)?

Ataide: O Convite veio através do roteirista Julio E. Braz. Foi ele quem coordenou o trabalhos dos brasileiros.
Kirigami, roteiro de Ataide Braz, arte de Roberto Kussomoto.









Páginas de Drácula publicada na Europa pela editora Magic Strip, através da agência Commu, arte de Neide Harue




Quadripop: No Guia dos Quadrinhos diz que o Paulo Yokota desenhou uma história do Drácula escrita por você e republicada em 2002 pela Opera Graphica no álbum Crônicas do Drácula, essa história saiu em outro lugar antes?

Ataide: Sim, ela foi publicado pela Press Editorial originalmente. Nem soube dessa republicação.





Quadripop: No seu blog, há uma outra HQ no estilo mangá, Sonata para o Verbo "Amar", desenhada pela Luri Maeda, além dessa e do Drácula, houveram outras?

Ataide: Sim, a Luri arte-finalizou a segunda edição da Skorpion. Infelizmente não foi publicada.





Fale sobre Skorpion, Arma Mortal (Veija Comunicação Publicitária e Editorial 1989), desenhada pela Neide, só teve uma edição, houve tentativas de continuar a história?

Ataide: Como mencionei acima, houve uma segunda edição.  A Skorpion era uma ideia que não pude desenvolver. Era uma heroína sem poderes e lutando contra um governo corrupto e autoritário. 





Quadripop: Como surgiu os convites de escrever uma história de Falcão Azul e Bionicão pra RGE e outra do anime Zillion na revista Misto Quente da Abril (que mesclava álbum de figurinhas e quadrinhos)? Você fez outro trabalho com personagens licenciados?

Ataide: A primeira editora que eu e o Kussumoto visitamos no inicio da carreira foi a Noblet. O Hamasaki no orientou a procura o Primaggio Mantovi na Abril. E assim comecei a fazer roteiros para a Hanna-Barbera.  Mas a Abril perdeu os direitos da HB que foram para a Rio Grafica Editora e a produção ficou com o Estúdio do Ely Barbosa, onde apresentei alguns roteiros. Que eu saiba este do Bionicão foi o única a ser desenhado. Creio que pelo Seabra.

O Kussumoto foi convidado para desenhar Zillion. E ele me chamou para escrever o roteiro. Creio que o trabalho veio do Estúdio Velpa.

zillion editora abril

Quadripop: Fale sobre o livro Velozes e Vorazes?

Ataide: É uma ideia que merece ser revista. Tive que finaliza-la sem desenvolver o que pretendia. E acabei matando a personagem que eu mais gostava. Talvez eu reveja essa história num futuro próximo.


Velozes e Vorazes, capa de Arthur Garcia


Quadripop: Existe algum projeto de quadrinhos ou livro que esteja inédito?

Ataide: Tenho alguns. Uma HQ de vampiro desenhado pelo desenhista italiano Umberto Buffa, um outro roteiro que ficou com o Airton Marcelino. Uma HQ de faroeste cujo roteiro ainda não desenvolvi.

O Quadripop agradece ao Ataide Braz pela entrevista.


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