Origens secretas dos robôs japoneses


Aqui no blog já falei de robôs gigantes em animes, nesse texto falarei um pouco da chegada dos robôs no Japão.





A palavra robô deriva da palavra checa robota (que pode significar sevo ou escravo), foi criada pelo escritor checo Karel Čapek (1890-1938) na peça R.U.R (Rossumovi Univerzální Roboti),lançada em 1921, nela um cientista cria uma substância usada para criar servos autômatos. Embora tenha criado o termo, o tema não era novo, já havia aparecido antes, é o caso do romance L'Ève future de Auguste Villiers de L'Isle-Adam (1886), onde um fictício Thomas Edson (1847-1931) cria uma mulher artificial. R.U.R. girava no tropo "humano cria robô, robô se rebela contra humano". o escrito Isaac Asimov apelido esse tropo de "Complexo de Frankenstein"  (também chamado de Turned Against Their Masters no Tv Tropes), mesmo que o Monstro de Frankestein tenha sido criado com partes de diversos humanos, foi criado um cientista, Asimov começaria a escrever contos sobre robôs em 1938 e formularia as Três Leis da Robótica (palavra criada por ele):




1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal. 

2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei. 

3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.




Pôster de montagem da peça R.U.R. nos Estados Unidos (1939)


No Japão, a peça chegou em 1923, traduzida como Jinzo Ningen (人造), homem artificial ou androide, numa tradução literal, o sucesso da peça fez com que alguns autores começassem a usar o termo para definir robôs como Hatsunosuke Hirabayashi  no conto Jinzo Ningen, Suihō Tagawa (1899-1989) num mangá de mesmo nome em 1929, o termo também seria usado pelo escritor Unno Juza (1897-1949) em 1939, também com o mesmo nome, Juza tinha Nikola Tesla (1856-1943) como uma das suas inspirações.

Uma outra denominação para robôs criada no Japão é tanque humano, em uma aventura de Ogon Batto (conhecido no Brasil como Fantômas),  o herói enfrenta o robô gigante Grande Tanque Humano (Dai Ningen Tanku), a origem do termo pode ter vindo do título japonês de The Master Mystery (1919),  Ningen Tanku (Tanque Humano) e o nome japonês do robô que aparece no seriado.

 Entre 1934 e 1935, Gajo Sakamoto (1895-1973) publicou Tank Tankuro, uma criatura que parece um robô e que podia disparar projéteis, não está claro se ele era um robô ou usava uma armadura. Em 1947, Fukujiro Yokoi (1912-1948) publica Fushigina Kuni no Putchà, ambientado em futuro distante, o mangá contava a história de um garoto chamado Putchà e seu robô Perii, com a morte Yokoi, o mangá foi terminado por Tetsuo Ogawa. Yokoi também ficou conhecido por fazer mangás sobre Tarzan.


Jinzo Ningen



Tank Tankuro


Fushigina Kuni no Putchà




Além de jinzo ningen, existe o termo a transliteração robotto (ロボット) na história Robotto to beddo no jūryō (1931) de Sanjugo Naoki.


Osamu Tezuka (1928-1989) era fã de Yokoi e ficou impressionado com o pôster do filme Metrópolis (1927) do alemão Fritz Lang (1890-1976),  baseado no livro de Thea von Harbou (então esposa de Lang), contudo, nunca chegou a assistir, em 1938, leu uma romantização da peça de Karel Čapek, essas duas produções influenciaria seus trabalhos posteriores. Em 1949, publica um mangá chamado Metropolis, em 2001, o mangá ganharia um filme animado pelo diretor Rintaro, roteirizado pelo mangaká Katsushiro Otomo, criador de Akira. Em 1951, publica seu mangá mais famoso, Tetsuam Atom (ou Atomu), lançado primeiramente com o nome de Captain Atom,  é conhecido no Ocidente como Astro Boy.

Pôster de Metrópolis 


Mangá Metrópolis
Metrópolis Anime






Uma outra fonte seria o filme Pinóquio da Disney (1940), adaptação do romance de Carlo Collodi, chegando a publicar um mangá em 1952, publicado no Brasil em 2017 pela NewPOP Editora.


Pinóquio por Osamu Tezuka (1952)



Leiji Matsumoto, criador de Patrulha Estelar (Yamato), Capitan Harlock entre outros, também cita Unno Juza e Fukujiro Yokoi como influências.

Essa influência pode ser vista também nos trabalhos do nipo-brasileiro Claudio Seto (1944-2008), em 1968, Seto publicou na EDREL, Flavo na revista O Ídolo Juvenil, que misturava contos de fadas e ficção científica, segundo ele:

Era um misto de ficção e contos de fadas. Isso porque as revistas “Contos de Fadas” e “Varinha Mágica” haviam feito grande sucesso na Editora Outubro anos antes.

Em 1982, Seto volta ao tema como Super Pinóquio publicado pela editora Grafipar, que teve apenas uma edição.




Shotaro Ishinomori (1938-1998) criou algumas séries para a Toei Company, dentre elas, Jinzo Ningen Kikaider (1972), que conta a história de um androide, que no mangá faz diversas alusões ao Pinóquio, entre 2001 e 2003, o mangá foi adaptado para animes. Em Kamen Rider, Ishinomori usava o termo Kaizou Ningen (改造人間) para definir ciborgues (criaturas metade humana, metade robô), mas também usava a ciborgue ( サイボーグ), é o caso de seu mangá Cyborg 009.

Jinzo Ningen Kikaider






Em Dragon Ball, número 17 e 18 são chamados de androides (jinzo ningen), eles eram humanosque morreram e foram revividos, uma das influências de Akira Toriyama é a franquia Exterminador do Futuro (Terminator), onde o robô interpretado por Arnold Schwarzenegger é chamado de ciborgue por ter revestimento similar a pele humana, o androide Major Metallitron é semelhante ao T-800 interpretado pelo ator austríaco. Também há claras referências aos filmes da série Alien, onde também possuem androides. Em um outro post, falo mais sobre o assunto. Os vídeos abaixo do canal Ilha Kaijuu explicam alguns conceitos:








Thomas Edson inspirou diversas histórias, o escritor John Clute cunhou o termo Edisonade, Edson aparece em algumas das histórias, assim como em L'Ève future, aparece em Edison's Conquest of Mars de Garrett P. Serviss (1898), Nikola Tesla, ex-funcionário e rival de Edson também serve de inspiração,aparece no romance To Mars with Tesla ou, The History of the Hidden World de Weldon J. Cobb (1901).






Conforme comentei em outras postagens, existe o subgênero de história alternativa chamado steampunk, ambientado na Era de Vitoriana, há também um subgênero inspirado em Tesla, o teslapunk.


Entre 2003 e 2009, foi publicado o mangá Pluto de Naoki Urasawa, uma releitura adulta de Astro Boy. Em 2016, a Panini Comics Brasil anunciou o lançado do mangá no país.

Em junho de 2017, foi anunciado uma versão em anime pela produtora Genco previsto para ser lançado em 2020. Em dezembro de 2017, a Panini publica o primeiro volume do mangá.




Em 2005,  a escritora e critica literária, Akagi Kanko lança a antologia SF Selection 2 - Robots vs Human species com um artigo sobre Karel Čapek, histórias de Isaac Asimov (Robbie), Unno Juza e Osamu Tezuka (uma história do robô Robita publicada na série Phoenix, Robida também apareceria em animes de Astro Boy em 1980 e 2003).




Em 2009, foi lançado um filme americano em CGI de Astro Boy, onde usam as Três Leis da Robótica de Asimov.


Capa do jogo baseado no filme




Em 2010, a peça R.U.R ganhou uma montagem no Brasil pelo português Leonel Moura com o título RUR, O Nascimento do Robô, o livro foi publicado em 2012 pela Editora Hedra com o título A Fábrica de Robôs. Em 2011, a L'Ève future  ganhou uma montagem  brasileira por Denise Bandeira.




Os livros de Asimov foram lançados pelas por diversas editoras, mas edições mais recentes são da L&PM e da Aleph.



Tanto o mangá, quanto o anime original de Astro Boy permanecem inéditos no país, mas foram lançados o reboot de 2003 e um mangá baseado no mesmo em 3 edições pela Panini Comics Brasil, nos anos 80 foi exibido O Menino Biônico (Jetter Mars), série criada por Tezuka enquanto não podia usar o Astro Boy, por conta disso, é bastante confundido com o original. Já Cyborg 009 teve tanto o anime original, quanto o reboot exibidos no país, além de seu primeiro filme animado nos anos 60.


Em 2014 foi lançado o mangá Atom the Beginning, um prequel de Astro Boy produzido por Tetsuro Kasahara, em 2016 foi anunciada uma versão em anime para abril de 2017. Também foram anunciadas as série Robot Atom (coproduzida com uma emissora da Nigéria) e Astro Boy Reboot (coproduzida com os estúdios Caribara Animation da França e Shibuya Productions de Mônaco).


Em 2017, Tezuka Pro anunciou um novo anime de Astro Boy.
Jetter Mars ou O Mênino Biônico no Brasil
Atom the Beginning

Ver também
O mangá da série Fundação de Isaac Asimov
Futuropolis

Leitura adicional
Roberto Berruezo Maia, Robôs Gigantes, Neo tokyo #99, Editora Escala, julho/agosto de 2014


Sergio Peixoto e Adriano de Avance, A História dos Robôs, Anime Ex Special #10 - Robôs, Editora Trama

Henshin! Especial #5, Mechas Os Super-Robôs de Combate, JBC

Scientific American Brasil Exploradores do Futuro 3 - Isaac Asimov.

Histórias de Robôs vol I, II e III (coleção de contos de vários autores) - Issac Asimov (org.), L&PM, 2005

João Cládio Fidelis, Metrópolis, Anime Ex #20, 2002, Editora Trama

Prima di Astro Boy. Origini dell’immaginario robotico in Giappone


Tank Tankuro

Review - Metrópolis

Anime/Metropolis - Tv Tropes Pinocchio (Manga)

Metropolis - JBox

Resenha - A Fábrica de Robôs, de Karel Cápek

Resenha: Revolta das Massas

Robôs - Tecmundo

Edisonade - Wikipédia

robotto - wikidicionário

Nikola Tesla in popular culture

Como fazer um programa de Super Heróis de Tokusatsu

SF Selection Robots vs Human species

A Mechanical Emerson for the Future in Urasawa’s Pluto

Mecha - Wikipédia em inglês



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