Mirza, Morto do Pântano e as lendas urbanas







Ambos os personagens foram criados em 1967 pelo italo-brasileiro  Eugênio Colonnese em quadrinhos de terror publicados pela editora, conforme mencionei em outra postagem, o terror no Brasil floresceu na década de 1950 e 1960 devido a sua proibição no mercado americano.




A sensual Mirza foi lançada dois anos de Vampirella, criada por Forrest J. Ackerman, Frank Frazetta, Trina Robbins, Tom Sutton e Archie Goodwin para a Warren Publishing. Ackerman esteve no Simpósio de Ficção Científica do II Festival Internacional do Filme (FIF) realizado no Rio de Janeiro em março de 1969, com ele vieram outros autores de ficção científica como Poul Anderson, Alfred Bester, Philip José Farmer, Robert. Heinlen, Harry Harrison, entre outros.. o que criou uma lenda que Forrest Ackerman tenha copiado a vampira brasileira, não há comprovação. Conforme já mostrei no post sobre o TV Tropes, clichês ou tropos sempre são reutilizados sem serem necessariamente plágios, as histórias de ambas as vampiras são distintas. Colonnese também ilustrou uma adaptação de Drácula de Bram Stoker roteirizada por Francisco de Assis, publicada em 1968 pela Taika.

Mirza e Morto na capa de Contos Magazine Apresenta: Mirza, Mulher Vampira - Especial



Uma personagem com o mesmo nome apareceu bem antes, Myrza a rainha dos vampiros aliens em "The Vampires of the Void" publicada em Strange Worlds #4 (1951) com desenhos e arte-final de Wally Wood e Joe Orlando. 

A diferença é que Myrza era loira






Fonte: fanzine Alegoria #24 (fevereiro de 2024)


O roteirista e publicitário Toni Rodrigues publicou uma página de quadrinhos explicando sobre as vampiras brasileiras dos quadrinhos


Fonte: Facebook



O Morto do Pântano era uma espécie de morto-vivo justiceiro que matava com seu machado, algumas vezes servia de anfitrião para outras histórias de terror. A lenda diz que o Morto foi criado antes do Monstro do Pântano (Swamp-Thing, Coisa do Pântano em tradução literal) da DC , criado por Len Wein e Berni Wrightson) e o Homem-Coisa (esse com tradução correta, Man-Thing), da Marvel, criado por Stan Lee, Roy Thomas, Gerry Conway e Gray Morrow, ambos estrearam em 1971, hoje sabe-se que Conway e Wein dividiram um apartamento e podem ter prego uma peça nas duas editoras.

Homem Coisa e Monstro do Pântano, respectivamente.


Primeiramente, ambos os personagens nada tem a ver com o Morto, apenas o seu cenário (típico de filmes de horror), além disso, a ideia dos dois personagens já havia sido apresentada com os personagens Heap e It.








Heap surgiu em Air Fighters #3 (Dec. 1942), criado por Harry Steine Mort Leav
It não veio dos quadrinhos, surgiu em um conto de Theodore Sturgeon, publicado em agosto de 1940 na revista pulp Unknown.

Coincidentemente ou não,  Roy Thomas trabalharia com os dois personagens na editora, o primeiro aparece na Guerra Kree-Skrull (1971-1972), o segundo em uma quadrinização em Supernatural Thrillers #1 (dezembro de 1972), com roteiros de Thomas e desenhos de com desenhos de Marie Severin e arte-final de Frank Giacoia. De acordo com Tony Isabela, editores da Marvel teriam sugerido que ele e Thomas escrevessem uma série regular de It, mas eles acharam isso entraria em conflito com a existência do Homem-Coisa. Em 2005, a TwoMorrows Publishing publicou o livro  Swampmen: Muck-Monsters of the Comics! de Jon B. Cooke e George Khoury.

The Heap em A Guerra Kree-Skrull


Para leitores novos, a figura do anfitrião do terror (horror host em inglês) é desconhecida, o anfitrião apresentava as histórias, como disse acima, por vezes, o Morto fazia o papel de anfitrião, na Era de Ouro (mais precisamente no interregno, durante a década de 1950), a Fawcett possuía o Doutor Death, a EC tinha Crypt-Keeper (conhecido aqui por uma série de TV e um desenho animado de TAles of Crypt como Guardião da Cripta), Vault-Keeper, Old Witch e Drusilla, com os contextos textos anti-quadrinhos e o Comics Code, o terror praticamente sumiu dos quadrinhos. Na TV haviam também anfitriões que exibiam filmes de terror, a mais famosa é  Vampira, interpretada por Maila Nurmi no programa The Vampira Show (1954-1955), com o cancelamento, Nurmi manteve os direitos da personagem, ela chegou a aparecer no filme Plan 9 from other Space (1959) de Ed Wood,  com uma vampira similar, creditada como Vampire Girl, a figura da Vampira foi inspirada na Morticia Addams da Família Addams, que surgiu como uma série de cartoons publicados por Charles Addams na revista New Yorker. 



Drusilla


Vampira

A Warren Publishing retomou os quadrinhos de terror em meados dos anos 60, para não ter problemas com o Comics Code, a editora adotou o formato magazine (tamanho de revistas grandes) e e em preto e branco, retornando a tradição da EC, criaram alguns anfitriões com Uncle Creepy (da revista Creepy), Cousin Eerie (da revista Eerie), até mesmo a Vampirella atuou como anfitriã.
Os anfitriões da EC, Uncle Creepy, Cousin Eerie e Vampirella

Em 1981, a atriz Cassandra Petereson surgiu como a anfitriã Elvira em Elvira's Movie Macabre, mais ela ficou mais famosa no filme Elvira: Mistress of the Dark (no Brasil, Elvira: A Rainha das Trevas), participando de outros programas, filmes e até quadrinhos pela DC. Nurmi chegou a processar Peterson por plágio e perdeu, nos Simpsons, Peterson foi parodiada com a Booberella, como paródia da  Elvira com a Vampirella (sendo boobs, uma gíria para seios).

  
Fontes e referências
The Heap, o primeiro monstro do Pântano
The Heap e a história dos monstros do Pântano
Crítica- It!, de Theodore Sturgeon
Horror host - Wikipédia em inglês
It (Theodore Sturgeon's) - The Appendix to the Handbook of the Marvel Universe
Distant Cousins of Swamp Thing?
Critica - O Morto do Pântano
Horror hosts - International Heroes
Mirza, a Mulher Vampiro, de Eugênio Colonnese
List of swamp monsters - TV Tropes
Mirza - International Heroes
Horror Host - TV Tropes
Nostalgia do Terror
The Story of Vampirella - SyFy
A trajetória das HQs de terror no Brasil
MIRZA - 1967 - by Eugenio Colonnese - Brasil
Swampmen pela TwoMorrows

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