Doc Strange, um super-herói clássico da Era de Ouro

Doc Strange é um super-herói criado na Era de Ouro dos quadrinhos americanos por Richard E. Hughes e Alexander Kostuk, cuja estréia ocorreu em Thrilling Comics #1 (fevereiro de 1940) publicado por uma editora que mudou de nome algumas vezes, conhecida como Nedor, Better Publications e Standard Comics, uma editora criada por Ned Pines, que assim como Martin Goodman, fundador da Marvel, usou vários nomes para publicar quadrinhos e revistas pulp, o nome da revista Thrilling Comics remete a Thrilling Publications, um selo de pulps de Ned Pines.

A origem do herói lembra a do Capitão América e até a primeira versão do Superman, que era um vilão num conto ilustrado publicado em um fanzine, provavelmente inspirado pelo romance Gladiator de Philip Wylie.

O cientista Hugo Strange criou um soro chamado Alosun que destilava átomos do Sol, fornecendo superforça, voo e invulnerabilidade, assim como muitos heróis da época, Strange teve um sidekick juvenil chamado Mike Ellis, que foi impedido de ingerir o soro. Ao seu lado também estava sua noiva, Virginia Thompson. O herói foi publicado nas revistas Thrilling Comics e America's Best Comics até agosto 1948. Doc Strange aparecia com outros heróis na capa da America's Best Comics, mas os crossovers não se concretizavam nas revistas, algo muito comum, poucas editoras investiam em universos compartilhados.

Doc Strange, Black Terror e Fighting Yank na capa America's Best Comics #18, arte Alex Schomburg

No site Public Domain Super Heroes diz que os títulos da editora foram renovados pela Popular Library, que foi comprada pela Fawcett, que foi adquirida pela DC Comics, mas ao que parece, os heróis estão em domínio público, sendo republicado e usado por outras editoras.

A primeira editora a usar Doc Strange foi a AC Comics, que o utilizou em Femforce como parte do Vault Heroes, um grupo de heróis da Era de Ouro que foram congelados voluntariamente após a Segunda Guerra Mundial, contudo, ele morreu após ser descongelado. A editora também republicou histórias do herói em Men of Mystery e Men of Mystery Spotlight Special.

No final da década de 1990, o escritor britânico Alan Moore estabeleceu uma parceria com a WildStorm de Jim Lee (na época, um selo da Image Comics), fundando o selo chamado America's Best Comics ou ABC, por pouco, Moore não desistia da parceria, uma vez que Lee em 1998, Lee vendeu a WildStorm pra DC Comics (a ponto de Lee se tornar desenhista e posteriormente, editor da DC), mas Lee afirmou que a linha editorial de Moore não seria afetada. Moore criou duas séries The League of Extraordinary Gentlemen (conhecida no Brasil apenas como Liga Extraordinária), que mostrava um supergrupo de personagens literários da Era Vitoriana como Dr. Jekyll/Mr. Hyde de Robert Louis Stevenson, Capitão Nemo de Júlio Verne, Allan Quatermain de Henry Rider Haggard, o Homem Invisível de H. G. Wells e Tom Strong, que utilizou super-heróis em domínio público de editoras extintas. Curiosamente, o escritor Warren Ellis e o desenhista John Cassaday faria algo parecido com Planetary (1999-2009) pela própria WildStorm, com a diferença de Planetary usar pastiches de personagens como Tarzan, Lone Ranger e Doc Savage. O conceito havia sido usado anos antes pelo escritor Philip José Farmer no que chamou de Wold Newton. Outra série criada por Moore foi Promethea, sobre Sophie Bangs, que encarna uma divindade chamada Promethea.

A série Tom Strong presta homenagem aos pulps e aos quadrinhos de super-herói/superaventura, até mesmo o Superman. As capas e até flashbacks das histórias emulam quadrinhos antigos. Moore já havia revisitado as Eras dos comics em Supremo, criação de Rob Liefield, calcado no Superman e em 1963, inspirado na Era de Prata.

Capa da primeira edição, arte de Alex Ross

Capa da sexta edição, arte de Dave Gibbons

Fanart de John Trumbull de Strange com outros heróis pulp: Tarzan, Fantasma, O Sombra e Doc Savage, curiosamente, Tom Strong foi publicado nas revistas em quadrinhos do Fantasma: a sueca Fantomen e a noruguesa Fantomet

Em Tom Strong, ilustrada inicialmente por Chris Sprouse, Moore tomou alguns cuidados para não infringir direitos autorais e marcas registradas, para não usar os termos Super Hero (pertencente a DC e a Marvel) e Super Heroes (pertence apenas a Marvel), Alan Moore cunhou o termo science hero. Doc Strange não pode ser chamado por esse nome por causa do herói da Marvel, o mago supremo Doutor Estranho (cujo verdadeiro nome era Stephen Strange), nem seu nome civil Hugo Strange, esse nome já era usado por um vilão do Batman, daí seu nome passou a ser Tom Strange, o Tom Strong do título é uma versão alternativa de Strange que foi criado por país cientistas em uma ilha fictícia das Índias Ocidentais que ingeriu uma raiz dos nativos da ilha para suas habilidades físicas e mentais. Tom Strange vive na Terra Obscura onde integra o grupo Society of Modern American Science Heroes ou SMASH com membros compostos de personagens da extinta Nedor como American Crusader, Black Terror (conhecido Terror Negro quando publicado aqui pela La Selva, os editores acharam que era uma série de terror, logo depois, o nome passou a ser usada numa revista do gênero, Cavalier, Fighting Yank I, Fighting Yank II, Green Ghost, Liberator, Ms. Masque, Pyroman, The Scarab, Tim Roland e The Woman in Red. Os hjeróis da Terra Obscura existem na realidade de Strong como personagens de quadrinhos (tal qual o Flash da Era de Ouro nas histórias do Flash da Era de Prata por Gardner Fox.

Embora tenha prometido não interferir, Moore teve alguns problemas com a DC, a linha foi cancelada em 2008, Moore assegurou os direitos de Liga Extraordinária, mas Tom Strong e Promethea ficaram com a DC Comics, Tom Strong estrelou a minissérie Tom Strong and the Planet of Peril por Peter Hogan (roteiro), Chris Sprouse (arte) e Karl Story (arte-final) e Jordi Bellaire (cores) publicada pelo selo Vertigo e foi integrado ao Universo DC em 2018, mesmo ano em que Promethea também aparece em histórias da DC, onde passou a integrar o grupo Terrifics com Senhor Incrível, Metamorfo, Phantom Girl e Homem-Borracha.

Em Project Superpowers de Alex Ross, publicado em 2008, embora o personagem não aparece na história, o quadrinista o colocou numa galeria com outros heróis e o chamou apenas de Doc.