O Judoka
Personagens de quadrinhos que praticavam judô eram bastante comuns na Era de Ouro. Dois deles inclusive traziam lições para os leitores: Black Cat (Pantera Negra no Brasil) da Harvey Comics (1941 - 1951) e Judo Joe, da Jay-Jay Corporation (1953). Porém, essa matéria é sobre séries conhecidas como "O Judoka" ou "O Judoca".
Em 1969, a EBAL lança a revista "O Judoka". A revista trazia as histórias da revista Judomaster, da Charlton, estrelada pelo herói homônimo (grafado como Judô-Master) criado por Joe Gill e Frank McLaughlin (que praticava judô).
Judomaster (ou Mestre Judoca como é conhecido atualmente no Brasil) estreou em Special War Series #4 (Novembro de 1965), escrita por Joe Gill e desenhada por Frank McLaughlin. Na Segunda Gerra Mundial, o sargento americano Hadley "Rip" Jagger salva a filha de um chefe tribal do Pacífico, ele então resolve ensinar as técnicas de judô. No mês seguinte, o Judomaster apareceu em Sarge Steel #6 (Dezembro de 1965). Nno ano seguinte, ganhou uma revista própria, que começou pela edição #89 (Maio-Junho de 1966). Na verdade a revista assumiu a numeração da revista Gunmaster, uma revista de histórias de faroeste (uma pratica comum no mercado de quadrinhos). Como é comum em quadrinhos de super-heróis, o Judomaster ganhou um sidekick, um garoto japonês que assumiu a identidade secreta de "Tigre". A revista teve mais 9 edições e foi cancelada. O Judomaster permaneceu no limbo editorial, na década de 1980, a DC comprou a Charlton Comics, e os personagens da editora passaram a fazer parte da Terra-4. O personagem apareceu na mini-série Crise nas Infinitas Terras , que gerou um reboot na editora, onde as terras paralelas foram reunidas em apenas uma. Na nova cronologia, o herói é descrito como um dos membros do All-Star Squadron.
Fase O Judoka brasileiro
Após 6 edições, a Ebal deixa de publicar o Judomaster (que possuía apenas 8 histórias), a editora optou por lançar um novo herói com identidade brasileira. De acordo com o jornalista e quadrinista, Ota, o jornalista Adolfo Aizen já planejava a criação de um herói local e resolveu experimentar o título.
Em Outubro de 1969 é lançada a revista O Judoka #7 (trazendo a seguinte inscrição: Judoka, um herói brasileiro), com capa de Monteiro Filho, roteiro de Pedro Anísio e desenhos de Eduardo Baron. Essa edição conta a história do jovem Carlos da Silva, que passa a ser treinado pelo shihan (mestre) de judô chamado Minamoto. Após salva-lo de um acidente de caminhão, ele então assume a identidade O Judoka. Logo depois, Lucia, namorada de Carlos, também passa combater o crime. O nome do mestre é possivelmente uma alusão a "Iso Mataemon Ryūkansai Minamoto no Masatari", fundador da escola de jiu-jitsu Tenjin shinyō-ryū, o fundador do judô, Jigoro Kano foi aluno da escola.
Em 1970, o Judoka foi desenhado por Eugênio Colonnese em Chamada Geral - Epopéia, uma edição comemorativa aos 25 anos da editora. Na história, roteirizada por Pedro Anísio, aparecem vários personagens publicados pela editora até então, tais como Superman, Flash Gordon, Thor, Mickey Mouse e Tom & Jerry. Em O Judoka #27 (1971), Floriano Hermeto de Almeida Filho (que assinava FHAF) coloca Nick Fury em uma mensagem gravada em vídeo e enviada para O Judoka e Lúcia. O autor se declarou fã da fase do personagem desenhado por Jim Steranko,, outras influencias incluem o italiano Guido Crepax e o espanho Enric Sió. Fhaf não foi o único autor brasileiro a produzir histórias locais do agente da SHIELD, a editora Trieste publicou algumas histórias locais na revista própria do herói (1969).
A revista durou 52 edições e foi publicada até Julho de 1973, passaram pela revista: Mário Lima, Juarez Odilon, Cláudio de Almeida, Francisco Sampaio, Fernando Ikoma (que começou a carreira na EDREL) e Alberto Silva.
Em 1973, O Judoka foi adaptado para os cinemas, estrelado por Pedro Aguinaga (Carlos) e Elizângela (Lúcia), o filme foi dirigido por Marcelo Ramos Motta e roteirizado Marcelo Ramos Motta por João Renato Correia, Marina Saraiva e Danilo Marcondes de Souza Filho (diálogos) distribuído pela Ipanema Filmes.
Em 30 setembro de 2017, o Museum de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) exibiu trechos do filme, mais informações no site Cinemateca - MAM Rio.
Em 30 setembro de 2017, o Museum de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) exibiu trechos do filme, mais informações no site Cinemateca - MAM Rio.
Em junho de 2018, o jornalista Francisco Ucha lançou um projeto de financiamento coletivo no Catarse dedicada ao Judoka por FHAF contendo a republicação de cinco histórias, seis páginas de uma história inédita do herói, entrevistas, duas páginas de uma história do Lone Ranger (na época chamado de Zorro), sete de uma história sobre o cangaço e outros materiais, link do projeto, lançado em novembro de 2018, o livro foi publicado pela AVEC Editora de Artur Vecchi (filho de Lotário Vecchi da extinta Editora Vecchi). Link para a pré-venda
Em dezembro de 2022, em uma live do canal de Ucha, Fábio Vellozo apresentou o trailer do filme, encontrado por ele.
A segunda versão da revista O Judoka
A Ebal tinha como costume reaproveitar títulos de revistas anteriores. Entre 1976 e 1977, a editora lançou uma nova revista com "O Judoka Apresenta", nela foram publicadas histórias de "Richard, Dragon o Dragão do Kung Fu", personagem criado por Dennis O'Neil com o pseudônimo Jim Dennis para o romance Dragon's Fists (1974) e adaptado pelo próprio em título próprio (Richard Dragon, Kung-Fu Fighter 1975-1977), e que também eram publicadas em Kung Fu e do Karatê Kid, o personagem título foi criado inicialmente por Jim Shooter em 1966 para a futurísta Legião dos Super-Heróis, que teve um título próprio entre 1976 e 1970. A revista durou 13 edições. Richard Dragon ainda teria uma única revista especial: Richard Dragon Kung Fu (Edição Extra de Kung Fu), publicada em 1982.
O reaproveitamento de títulos eram prática comum em algumas editoras na época para não ter que fazer um novo registro no Departamento de Censura da Policia Federal.
O reaproveitamento de títulos eram prática comum em algumas editoras na época para não ter que fazer um novo registro no Departamento de Censura da Policia Federal.
O Judoca da Tatsunoko
Criado em 1961 por Ippei Kuri e o irmão Tatsuo Yoshida (criador de Speed Racer) para a revista de mangá Shōnen Book, O Judoca (Kurenai Sanshiro no original) conta a história de Sanshiro, um jovem lutador de jiu-jitsu que busca a vingança contra um lutador caolho, o assassino de seu pai, o fundador da escola Kurenai (vermelho em japonês). Sanshiro viaja ao lado do garoto Ken (Kenbo no original) e do cachorro Xereta (Boke no original). Em 1968, surge uma nova versão do mangá, publicado nas revistas Weekly Shōnen Sunday e Weekly Shōnen Jump. Em 1969, a Tatsunoko (empresa fundada pelos irmãos Yoshida em 1962), adapta o personagem para um anime. A série chega no Ocidente com o nome de Judo Boy, e no Brasil passou a ser conhecido como O Judoca (o que não chega a ser um erro, uma vez que judô e jiu-jitsu são artes irmãs) e foi exibido nos anos 70 e 80. Em 2013, a distribuidora de vídeo Cult Classic anunciou o lançamento do anime em DVD, porém, sem a opção do áudio em português.
O nome do personagem possivelmente foi inspirado em Sugata Sanshiro, personagem de um romance homônimo (1942) de Tomita Tsuneo, Sugata foi baseado em Shiro Saigo, que junto com o pai de Tsuneo, Tsunejirō, foram os primeiros discípulos de Jigoro Kano, Sugata Sanshiro ficou conhecido no cinema por uma série de filmes de Akira Kurosawa.
O nome do personagem possivelmente foi inspirado em Sugata Sanshiro, personagem de um romance homônimo (1942) de Tomita Tsuneo, Sugata foi baseado em Shiro Saigo, que junto com o pai de Tsuneo, Tsunejirō, foram os primeiros discípulos de Jigoro Kano, Sugata Sanshiro ficou conhecido no cinema por uma série de filmes de Akira Kurosawa.
Na Itália, o personagem foi adaptado para os quadrinhos publicados nas revista La Banda TV, da Edizioni Edierre (1980), e Cartoni in Tivù, da Edizioni TV Milano (1981). O quadrinista Alexandre Nagado afirmou se inspirar em Sanshiro para retratar Dan Hibiki, em Street Fighter #20 (O Demônio Caolho) da Editora Escala, publicada em meados da década de 1990, curiosamente, em 2008, foi lançado um jogo crossover de Tatsunoko vs Capcom, contudo, Sanshiro não foi usado.
Em 2016, a revista Veja da Editora Abril publicou uma biografia de Jigoro Kano em quadrinhos (ou jornalismo em quadrinhos como é chamada esse tipo de HQ), com roteiro de Alexandre Salvador, com desenhos de Alexandre de Maio.
Agradecimentos ao Toni Rodrigues por esclarecer sobre a segunda encarnação da revista "O Judoca".
Ver também
Tadashi Sawamura – O verdadeiro Sawamu, O Demolidor!
Fontes e referências:
Jornal da ABI #362 - A Cronologia dos Quadrinhos - Parte 2, Ota e Francisco Ucha
Jornal da ABI #362 - O golpe certeiro de um mestre do desenho , Paulo Chico
Ebal 60 anos: uma celebração
Judomaster
Hadley_Jaggar_(New_Earth)/Appearances
Judomaster - Wikipedia
As Artes Marcias nas HQs - Parte 1
As Artes Marcias nas HQs - Parte 2
A complicada numeração das revistas americanas
Brasileiros desenhando heróis da Marvel
Memo, a revista da memória gráfica
Guia dos Quadrinhos
GuiaEbal
Judomaster - Toonopedia
Um Blog em Quadrinhos - O Judoka
Um Blog no Planeta Mongo - O Judoka
Todo judoca deve praticar Jiu-Jitsu – Saiba por que
O Judoca - Mofolândia
Judo Boy - #01 - Il Giuramento
Kurenai Sanshiro - Animes 20th Century
Street Fighter - O Demônio Caolho [HQ]
O Judoca - Um clássico animê de artes marciais
LA BANDA TV RAGAZZI (Ed. Edierre)
Black Cat (Harvey Comics)
Judo Joe
Worney Almeida de Souza, Pancadaria Oriental, Herói n. 59, Acme/Nova Sampa, 1995
Artes marciais e ditadura brasileira: as histórias se cruzam? Incursões pelas páginas de O Judoka
O Judoka - Cinemateca Brasileira.
Comentários
Estou pesquisando e recolhendo material sobre este personagem (o brasileiro) para escrever um livro em que ele terá o maior destaque.
Abraços
JM Alvarez