Capitão Marvel, nomes, títulos e marca
Com os recentes filmes da Capitã Marvel na Marvel e Shazam na DC, resolvi contar um pouco da confusa história dos personagens com o mesmo nome.
Criado em 1939 pelo roteirista Bill Parker e o desenhista C. C. Beck, o primeiro a ser chamado de Capitão Marvel quase não foi lançado com esse nome, os autores iriam chama-lo de Captain Thunder, mas quando a revista ia sair, havia um outro personagem com essa alcunha, um herói com aventuras nas selvas da editora Fiction House na linha do Jim das Selvas de Alex Raymond. A revista onde o personagem iria estrear também passou por troca de nomes antes mesmo do lançamento, pensaram em Flash Comics, mas a DC já tinha uma revista com esse nome com o herói The Flash, logo depois, foi pensado o nome Thrill Comics, mas esse nome ficaria parecido com Thrilling Comics da editora Nedor, o nome escolhido foi Whiz Comics, sobraram as capas ashcan usadas para registrar previamente a revista. Estreando em Whiz Comics #2 (data na capa de fevereiro de 1940, mas lançada em dezembro de 1939), nela somos apresentados ao jovem Billy Batson que encontra um mago chamado Shazam que lhe confere poderes, para ativa-lo, Billy precisa gritar Shazam e se torna um homem adulto, Shazam é uma sigla dos nomes da Bíblia e da mitologia grega que lhe confere habilidades: Salomão (sabedoria), Hércules (vasta força física), Atlas (resistência, invulnerabilidade), Zeus (poderes mágicos), Aquiles (coragem) e Mércurio (velocidade, capacidade de voo).
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| Capitães Marvel, arte John Trumbull no Deviant Art |
O sucesso do Capitão Marvel e sua família Marvel não foi bem recebida pela DC, que acusou a Fawcett de plágio de seu carro-chefe, o Superman (não foi o primeiro, Wonder Man, criado por Will Eisner para a Fox Feature Syndicate também foi alvo de um processo), o processo foi aberto em 1941, contra a Fawcett e a Republic Pictures (que tinha lançado um seriado e que quase lançou um do Superman), após sete anos de litígio, um juiz decidiu que de fato havia uma infração, mas que a DC havia aberto mão de seus direitos ao ser negligente com as tiras de jornal, em 1951, o caso foi reaberto e deu causa ganha para a Fawcett, em 1952, a DC recorreu, a Fawcett acabou perdendo o processo em 1953 e deixando de publicar o personagem.
Nesse ano de 1953, a revista satírica MAD publicou uma paródia envolvendo uma batalha do Superman com o Capitão Marvel chamada Superduperman por Harvey Kurtzman (roteiro) e Wally Wood (desenhos), nela o Superduperman enfrenta o Captain Marbles.
Em 1954, a Fawcett vende o coelho Hoppy the Marvel Bunny para a Charlton, que publica como Happy the Magic Bunny, Happy, Speed e retira todas as referências a Família Marvel e ao mago Shazam.
No Reino Unido, o personagem era bastante popular, com fim do Capitão Marvel, a solução da editora Len Miller & Son foi criar um genérico, o Marvelman, criado por Mick Anglo.
Devido a esse limbo, muitas histórias do começo do Capitão Marvel encontram-se disponíveis nos sites de quadrinhos em domínio público: Digital Comic Museum e Comic Book Plus.
No Brasil, essa popularidade também era tamanha, o jornal O Globo tinha uma revista chamada Shazam, onde publicava não apenas o Capitão Marvel, mas outros heróis de outras editoras (numa época em que as revistas em quadrinhos eram antologias) em 1952, Roberto Marinho do Globo fundou a Rio Gráfica Editora (RGE) e migrou suas revistas em quadrinhos para a nova editora, ele queria que a editora se chamasse Globo (assim com a futura rede de televisão que iria fundar), mas como já existia uma Livraria gaúcha que atuava com esse nome, ele precisou criar outro nome, somente em 1986, quando compra a livraria e editora gaúcha, o nome da empresa passa a ser Editora Globo. Além de Shazam, havia uma revista chamada Capitão Marvel Magazine e uma revista chamada Biriba-Shazam, uma alusão a um nome usada pelo personagem Pafúncio da tira Pafúncio de Marocas (Bringing Up Father) de George McManus. A editora RGE até mesmo publicou histórias do Marvelman como Jack Marvel, fazendo os leitores pensarem que era mais um membro da família, o Capitão Marvel até teve histórias produzidas por autores locais como um inusitado crossover entre ele e o Tocha Humana da Timely (atual Marvel Comics), criado por Carl Burgos. Essa não foi a única versão de personagens da editora feitas por outros autores, na Bélgica, Albert Uderzo, cocriador do Astérix, fez uma versão do Capitão Marvel Jr. para a revista Bravo de 1950 a 1951.
O Capitão Marvel foi publicado pela RGE até 1968.
O Capitão Marvel foi publicado pela RGE até 1968.
Em 1966, já na chamada Era de Prata dos quadrinhos americanos, Carl Burgos lança pela M.F. Enterprises, o seu próprio Captain Marvel. O personagem teve duas revistas: Captain Marvel (quatro edições e Captain Marvel Presents the Terrible Five (cinco edições),
O sumiço desse Capitão Marvel é culpa da Marvel, em 1967, querendo deixar o nome da editora mais evidente, Stan Lee resolve criar o seu Capitão Marvel, desenhado por Gene Colan, a Marvel pagou 4.500 dólares para que a M.F. tirasse o personagem de circulação para não confundir com o herói deles, Marvel era um nome usado várias vezes ainda nos tempos da Timely, tanto em pulps, quanto em revistas em quadrinhos, tanto que sua primeira revista do gênero, lançada em 1939, se chama Marvel Comics (onde ironicamente, Carl Burgos lançou o seu Tocha Humana). Por um curto período de 1946 a 1947, a revistas da Timely traziam a frase "A Marvel Magazine". Estreando em Marvel Super Heroes #12 (dezembro de 1967) e ganhando uma revista solo no ano seguinte.
O novo Capitão Marvel, cujo verdadeiro nome era Mar-Vell, era um alienígena da raça Kree que vem para a Terra para espionar os humanos, ele acaba se afeiçoando aos humanos e se torna um desertor e herói para os terráqueos, em 1969, com a entrada do roteirista Roy Thomas e o desenhista Gil Kane, o personagem passa a dividir moléculas com o jovem Rick Jones, ao bater os braceletes, Jones troca de lugar com Marvel e torna-se o Capitão Marvel, fã de quadrinhos da Era de Ouro, Thomas arrumou uma forma de homenagem o Capitão Marvel original.
No Brasil, esse personagem estreou em 1969 na revista Edições GEP, que também publicou X-Men e o Surfista Prateado, em 1970, ele chegou a aparecer em uma edição de Capitão América, Thor e Homem de Ferro da EBAL com o nome Capitão Maravilha.
Também em 1967, C. C. Beck e o roteirista Otto Binder (que foi roteirista das histórias da família Marvel, cocriando personagens como Mary Marvel) anunciaram que lançariam um novo herói chamado de Captain Shazam de acordo com anúncio publicado em Fatman, the Human Flying Saucer #2 (junho de 1967) da editora Lightning Comics, sobrou apenas a página do anúncio.
Em Marvel Super Heroes #13 (março de 1968), Thomas e Kane introduzem Carol Danvers, piloto da Força-Aérea americana, ela conhece o Dr. Walter Lawson, o nome usado por Mar-Vell na Terra, em Captain Marvel #18 (novembro de 1969), Carol sofre um acidente de um dispositivo kree e fica gravemente ferida.
Em 1972, a DC resolve procurar a Fawcett e fazer um contrato de licenciamento para o uso do Capitão Marvel da Fawcett, com a ideia de lançar o personagem em 1973 em revista própria, porém, com a Marvel tendo a posse do título e a marca registrada de Captain Marvel, a revista foi chamada de Shazam!, embora ele ainda aparecesse com o nome Capitão Marvel nas páginas internas (veja o tropo I Am Not Shazam). Nessa época, a DC trabalhava com o conceito de Terras Paralelas, então foi estabelecido com o Capitão Marvel seria habitante da Terra-S com vários dos heróis da Fawcett. Era esperado pelos fãs, um crossover entre os dois heróis, antes disso, a DC preferiu testar com uma imitação do Capitão Marvel, , em Superman #276 (junho de 1974), roteiro de Elliot S. Maggin e desenhos de Curt Swan, o Homem de Aço luta contra o William Fawcett, o Captain Thunder (uma possível alusão a proposta inicial dos criadores, no Brasil, a EBAL deu o nome de Capitão Corisco, mas logo, a editora prepararia o terreno para o evento, em Shazam! #15 (dezembro de 1974), em uma história escrita por Dennis O'Neil com desenhos de Bob Oksner, o Capitão encontra o vilão Lex Luthor, apesar de aparecer na capa, o Superman não participa da história, também em 1974, o herói ganha uma série live-action pela Filmation com o nome de Shazam!, estrelado por Michael Gray, em 1975, surge um spin-off, Secret of Isis, com a personagem Poderosa Isis interpretada por Joanna Cameron, lembrando que essa foi a segunda versão live-action do herói, que teve um seriado cinematográfico Adventures of Captan Marvel pela Republic Pictures em 1941 estrelado por Tom Tyler (que também encarnaria o Fantasma de Lee Falk), Isis também seria transportada para os quadrinhos da DC. Em 1979, o Capitão Marvel aparece no especial live-action Legends of the Superheroes, produzido pela Hanna-Barbera.
O confronto entre Superman e o Capitão Marvel foi finalmente foi publicado em Justice League of America Vol #137 (dezembro de 1976), roteirizado por Martin Pasko com ilustrações de Dick Dillin.
Voltando a Marvel, o personagem dela não teve a publicação regular, participou do evento Guerra Kree-Skrull escrita por Roy Thomas (1971-1972), em março de 1973, a revista foi assumida por Jim Starlin, que também estava com ideias na chamada área cósmica da Marvel, tendo criado o vilão Thanos no mês anterior, que viria a se tornar um adversário de Mar-Vell.
Em 1977, Carol retorna a editora com um título próprio, Ms. Marvel, com roteiros de Gerry Conway (depois Chris Claremont) e desenhos de John Romita. Sr, é revelado que ao sofrer o acidente, seu DNA se tornou um híbrido entre genes humanos e kree.
Também em 1977, Capitão Marvel da Fawcett foi comprado pela CBS Publications, a DC continuou pagando a licença para a nova dona.
Em 1981, a Filmation lança uma série animada do Capitão Marvel, The Kid Super Power Hour with Shazam!.
Starlin acabaria matando Mar-Vell em The Death of Captain Marvel (1982), a primeira graphic novel da editora. Contudo, a editora ainda temia perder a marca e ainda em 1982, o nome Capitão Marvel seria utilizado novamente, em The Amazing Spider-Man Annual #16 (outubro de 1982), os leitores são apresentados a afro-americana Monica Rambeau, uma tenente da polícia de Nova Orleans, criada por Roger Stern (roteiros) e John Romita Jr. (desenhos), a personagem era inspirada na atriz Pam Grier, estrela de filmes blaxploitation (filmes para audiências negras), como comentei, o nome Captain Marvel foi apenas para não deixar a marca caducar, a origem dos poderes é extra-dimensional, mas sem nenhuma relação com os Kree.
Também em 1982, no Reino Unido, o Marvelman volta a ser publicado na revista Warrior, com roteiros de Alan Moore, a nova série foi aclamada pela abordagem adulta de Moore, em 1985, o personagem chegaria ao mercado americano pela editora Eclipse, por causa da Marvel Comics, curiosamente, o personagem Wendell Elvis Vaughn, o Marvel Boy chegou a ser chamado de Marvel Man em 1978, antes de se estabelecer com Quasar em 1978, o nome Marvel Boy surgiu na Era de Ouro em um personagem criado por Jack Kirby e Joe Simon e também foi usado por diversos heróis.
A Eclipse deu o nome de Miracleman, curiosamente, em 1983, o próprio Moore e Alan Davis (que desenhou o Miracleman pra Warrior) usou o personagem com o nome Miracleman em histórias do Capitão Britânia para a Marvel UK (divisão britânica da Marvel)
Em 1982, na DC, Roy Thomas chegou a criar um novo Captain Thunder, com o mesmo nome do anterior (Willie Fawcett), mas era um garoto afro-americano, ele não chegou a ser publicado e apareceu em The Comics Buyer's Guide #16 (1982). Entre 1987 e 1988, Thomas publicou pela Heroic Publishing, uma série de 10 edições chamada Captain Thunder and Blue Bolt.
Em 1985, a DC publicou a minissérie em 12 edições Crises nas Infinitas Terras, idealizada pelo roteiros Marv Wolfman e desenhada por George Pérez, onde os heróis de várias terras se unem para lutar contra o vilão Anti-Monitor, após o fim da minissérie, a DC unificou as Terras em uma só, Capitão Marvel aparece na minissérie Legends de 1986, por John Ostrander (argumentos, Len Wein (roteiros), John Byrne (desenhos) e Karl Kesel (arte-final), após essa minissérie, o herói passa integrar a Liga da Justiça Internacional de Keith Giffen e J. M. DeMatteis, também conhecida com a A Liga Cômica. Somente em 1991, a DC comprou os personagens da Fawcett da CBS.
Em DC vs Marvel (1996), crossover entre as duas editoras minissérie em quatro edições escrita por Ron Marz e Peter Davidi e desenhada por Dan Jurgens e Claudio Castellini, o Capitão Marvel da DC confronta o Poderoso Thor da Marvel, como consequência, o crosssover gerou o universo Amálgama, onde surge o herói William Mar-Vell em JLX #1 (um misto da Liga da Justiça com os X-Men), roteiro de Gerard Jones e Mark Waid e desenhos de Howard Porter., que mescla os dois heróis de mesmo nome, Billy é um jovem que se transforma ao gritar Kree!, sendo um metamutante (fusão de metahumano e mutante), no crossover JLA Avengers, escrito por Kurt Busiek e desenhado por George Perez, os dois Marvels aparecem juntos em uma cena.
Na Marvel, vários personagens usaram o nome Capitão Marvel: Genis-Vell (filho do Mar-Vell, que antes usava o nome de Legacy), que também se conecta com Rick Jones, Phyla-Vell, irmã de Genis-Vell, Khn'nr (um skrull se passando por Mar-Vell), Noh-Varr (um kree que também já foi Marvel Boy).
Monica Rambeau mudaria de nome, sendo chamada de Photon, Pulsar e mais recentemente, Spectrum.
Em 2009, a Marvel compra o personagem do Mick Anglo, registrando até mesmo o controverso nome Marvelman, com a editora publicando histórias de Mick Anglo e de Alan Moore.
Em 2011, a DC resolveu mudar o nome do Capitão Marvel para Shazam, talvez já mirando na transmidialização), ainda em 2011, na evento Flashpoint (Ponto de Ignição no Brasil), Geoff Johns (roteiro) e Andy Kubert (desenhos) apresentam um outro Captain Thunder (Capitão Trovão na versão brasileira) formado por seis criação que formam o coletivo S.H.A.Z.A.M., cada um deles representado um dos fornecedores de poder do personagem: Eugene Choi (Salomão), Pedro Peña (Hércules), Mary Batson (Atlas), Freddy Freeman (Zeus), Billy Batson (Aquiles), Darla Duddley (Mercúrio), nessa versão Mary não se torna Mary Marvel, nem Freddy vira o Capitão Marvel Jr., o grupo também aparece no filme animado Justice League: The Flashpoint Paradox lançado diretamente em vídeo em 2013.
Carol Danvers usou os nomes de Binária e Warbird, para em 2012, se tornar a Capitã Marvel, recentemente, um retcon foi feito para dizer que Carol era na verdade filha de uma mulher kree e um terráqueo e o que o acidente apenas despertou seus poderes.
Por isso tudo, esse ano temos um filme chamado Captain Marvel focado em Carol Danvers (Brie Larson) e Shazam!, focado no Billy Batson (Asher Angel e Zachary Levi).
Em seu perfil no Facebook, o quadrinista Alex Ross postou uma fotomontagem com o Capitão Marvel/Shazam e personagens diretamente ou indiretamente, inspirados nele.
Fontes e referências
Miracleman, o plágio que deu certo
Marvel Family
Captain Marvel - International Heroes
Comic Book Urban Legends Revealed #99
Captain Thunder - DC Wikia (inglês)
S.H.A.Z.A.M. - DC Wikia (português)
William Mar-Vell (Amalgam Universe) - DC Wikia em inglês
William Mar-Vell (Earth-9602) - Marvel Wikia
Capitão Marvel (Billy Mar-Vell) - Procolos Amálgama
Capitão Marvel (Billy Mar-Vell) - Protocolos Xavier
Shazam Wiki
Captain Marvel (DC Comics) - Wikipédia em inglês
Captain Marvel (Marvel Comics) - Wikipédia em inglês
Captain Marvel (Mar-Vell) - Wikipédia em inglês
Carol Danvers - Wikipédia em inglês
Marvelman - Wikipédia em inglês
Afinal, quem é o Capitão Marvel?
Captain Marvel (Fawcett) - Don Markstein's Toonopedia
Captain Marvel (M. F.) - Don Markstein's Toonopedia
Captain Marvel (Marvel) - Don Markstein's Toonopedia
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Comics That Marvel Published To Maintain Their Captain Marvel Trademark
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Comentários
que persogem é esse?
Ah ele faz parte de um supergrupo...
No mais, parabéns pela pesquisa!