Desenhos animados do gênero espada e planeta - parte 1
Sword and planet (Espada e planeta ou espadas e planetas) é um subgênero da fantasia científica, nelas, os heróis aparecem em cenários exóticos e usam espadas para combater vilões. Algumas obras podem ser enquadradas no gênero planetary romance (romance planetário), porém, nem toda obra de sword and planet é um planetary romance.
Os primeiros exemplos de sword and planet são Across the Zodiacde Percy Greg (1880) e Lieut. Gullivar Jones: His Vacation de Edwin Lester Arnold (1905).
A animação de John Carter of Mars
Em 1936. a primeira animação planejada do gênero nunca chegou a ser terminada - a adaptação dos contos de Edgar Rice Burroughs seria lançada pela MGM e produzida pelo diretor de animação Bob Clampett. Clampett ficou conhecido pelos trabalhos com Looney Tunes e Merrie Melodies com a colaboração do ilustrador John Coleman Burrughs, filho do escritor . O filme animado seria duplamente pioneiro: seria o primeiro longa metragem animado (antecedendo Branca de Neve e os Sete Anões de 1937), e a primeira animação de super-herói (antes de Superman dos irmãos Fleischer, produzido de 1941 a 1942).
Coincidentemente, em 1937, a Univeral Studios laçaria um seriado cinematográfico de Flash Gordon, estrelado pelo nadador e ator Buster Crabbe, A tira de jornal foi criada por Alex Raymond e lançada em 1934 para concorrer com outro herói de ficção científica: Buck Rogers. A série contava as aventuras do esportista Flash Gordon, sua namorada Dale Arden e o Doutor Hans Zarkov, que viajam ao Planeta Mongo, planeta que estava em rota de colisão com a Terra.
De acordo com alguns pesquisadores, Flash Gordon surgiu depois que um projeto de tira de John Carter não se concretizou - a teoria tem um fundo de verdade, pois Tarzan já estava presente nos quadrinhos desde 1928. John Carter, no entanto, somente seria publicado em pranchas dominicais em 1941 - a arte ficaria a cargo de John Coleman Burroughs. Flash Gordon não teve apenas John Carter como inspiração, mas também o livro When Worlds Collide, de Philip Wylie e Edwin Balmer (1933), que também trazia uma história de colisão de planetas.
Crabbe também interpretaria nos cinemas outros heróis dos quadrinhos, como o próprio Buck Rogers, Tarzan e Thun'da.
Star Wars e a renovação do gênero
Em 1977, George Lucas lança o primeiro filme de Star Wars. Fã dos seriados de Flash Gordon produzidos pela Universal estrelado pelo ator e o ex-nadador Buster Crabbe (que também interpretou Buck Rogers em outro seriado do estúdio), além dos filmes de samurai do diretor Akira Kurosawa, Lucas chegou a tentar comprar os direitos de Flash Gordon, mas logo descobriu que os direitos estavam nas mãos do produtor italiano Dino de Larentiis, Lucas tentou convencer o produtor a aceita-lo como diretor do filme, sem sucesso, resolve criar sua própria uma epopeia espacial que mistura elementos de swashbuclker e filmes de samurai (com a presença dos sabres de luz de jedi e sith), faroeste e space opera. O filme fez com que vários projetos relacionados a ficção científica e fantasia viessem à tona, como o retorno de Buck Rogers, Flash Gordon e Jornada nas Estrelas.
Em outro texto publicado nesse blog, relacionei Thundarr a Star Wars, porém, Thundarr se passava no Planeta Terra.
Em 1979, a Filmation trabalha em projeto de um filme animado para a televisão de Flash Gordon de Alex Raymond, o canal NBC resolve que deveria ser lançada uma série de TV, exibida de 1979 a 1982, a série teve duas temporadas, a primeira fiel as tiras e a segunda com aventuras inéditas, ainda em 1982, foi exibido o filme animado original Flash Gordon: The Greatest Adventure of All, roteirizado por Samuel A. Peeples roteirista do segundo piloto Star Trek/Jornada nas Estrelas, que também teve uma série animada pela Filmation, cujo piloto também foi escrito por Peeles, o filme era ambientado na II Guerra Mundial e mostrava Ming forneceu armamentos para Adolf Hitler.
Curiosamente, uma história de John Carter da Marvel por Chris Claremont e Walt Simonson foi reaproveitada em Star Wars, com as alterações, John Carter deu origem ao personagem Aron Peacebringer.
Em 1980, é lançado o projeto de Laurentiis, dirigido por Mike Hodges e estrelado por Sam J. Jones, muito lembrado pela trilha sonora da banda britânica Queen.
Em 1982, foi lançado o especial Flash Gordon: The Greatest Adventure of All, que foi planejado pela Filmation antes da série animada.
Na década de 1980, John Carter foi cogitado pela Disney como um concorrente de Star Wars e Conan, na esteira do Conan, surgiram vários filmes de "espada e feitiçaria", alguns até ambientados no espaço como Krull. A empresa acabou desistindo, na década de 2000, os direitos ficaram nas mãos da Paramount, em 2009, foi lançado para o mercado de home vídeo, Princess of Mars, uma adaptação de baixo orçamento da The Asylm,estrelado por Antonio Sabato Jr, até que em 2012, a Disney lança John Carter, estrelado por Taylor Kitsch e dirigido por Andrew Stanton, conhecido pelos trabalhos de animação da Pixar, o filme seria o primeiro de uma trilogia, mas fracassou nas bilheterias.
Em 2015, o animador Robb Pratt colocou em seu canal do Youtube o curta Flash Gordon Classic, inspirado em um episódio do seriado estrelado por Crabbe:
Em 1981, a Filmation lança Blackstar, nela um astronauta americano vai parar em outro planeta através de um buraco negro e passa a combate um governo tirano com uma espada mística. Blackstar guarda semelhanças físicas com a versão de Tarzan que a mesma Filmation produziu entre 1976 e 1984.
No Brasil, a série foi exibida no Balão Mágico da Rede Globo, o tema de abertura foi trocado pelo tema de Star Trek: The Next Generation/Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.
Blackstar e Tarzan |
Em 1982, a fabricante de brinquedos Mattel lança a coleção de action figures Masters of Universe, protagonizada por He-Man, um típico "bárbaro conanesco". Sobre a criação há duas versões: a Mattel diz criou a franquia após o sucesso de Star Wars e que o bárbaro foi um dos projetos apresentados por Roger Sweet enquanto que outra versão diz que He-Man foi criado às pressas depois que um action figure de Conan, o bárbaro não pode ser comercializado (uma vez que o filme estrelado por Arnold era um tanto adulto para o público juvenil). Coube ao roteirista Donald F. Glut, criar a história dos bonecos, primeiro publicada em minicomics dadas como brindes. Em 1983, MOTU ganhou uma versão animada pela mesma Filmation - nela He-Man passou a ter uma identidade secreta, o Príncipe Adam (o conceito apareceu primeiro em quadrinhos publicados pela DC Comics). Adam usa a espada de Grayskull para se transformar em He-Man, ideia essa vista nos personagens como Capitão Marvel (onde o garoto Billy Batson se transforma gritando Shazam!), Thor, o deus do trovão da Marvel (onde o médico Donald Blake se transforma em Thor, ao bater um cajado no chão) e O Jovem Sansão (onde um adolescente se transforma em um homem forte ao bater braceletes).
O concept original de Mark Taylor lembrava o Conan, segundo a versão popularizada do bárbaro criada por Frank Frazetta. Fonte:Vikor - He-Man of the North, Seu personagem se chamaria Torak, Hero of Pre-history Fonte: Mark & Rebecca Taylor on the origins of He-Man
A série animada teve design de personagens por Fred Carrillo, Gerald Forton, Herb Hazelton, Diane Keener, Patricia Wong, Charles Zembillas, Alice Hamm, Dale Hendrickson, Lew Ott, Harry Sabin, Ric Quiroz, o quadrinista e animador Bruce Timm trabalhou na série como layout artist, ele também trabalhou nos quadrinhos do personagem.
Curiosamente, na versão brasileira, duas canções do grupo techno-pop espanhol Azul y Negro, usadas como música de fundo de He-Man são elas: Fantasia de Piratas e Fu-man-chu.
A Filmation reciclou ideias e episódios de Tarzan, Flash Gordon e Blackstar assim como em Blackstar, Marlena, a mãe de Príncipe/He-Man também é uma astronauta da Terra.
Em 1985, a série gerou um spin-off - She-Ra: A Princesa do Poder - sobre Adora, a irmã-gêmea de Adam que vive no Planeta Etérea.
Em 1987, MOTU chegou ao cinema, estrelado por Dolph Lundgren (He-Man) e Frank Langella (Esqueleto), dirigido por Gary Goddard e roteiro de David Odell e Stephen Tolkin. O filme foi bastante comparado com Star Wars, mas para o roteirista de quadrinhos John Byrne, era uma adaptação não-oficial do Quarto Mundo de Jack Kirby. He-Man representaria Orion e Esqueleto representaria Darkseid. O diretor Gary Goddard confirmou ser fã de Jack Kirby, mas declarou que se inspirou em Quarteto Fantástico e Thor, e que chegou a cogitar a presença de Kirby na produção do filme. Porém, o estúdio não aprovou, outros quadrinistas participariam da produção, o francês Jean Giraud, mais conhecido como Moebius e o americano William Stout, inicialmente, Ralph McQuarrie, concept artist de Star Wars e Galactica chegou a produzir alguns designs, mas como estava envolvido com a produção de Cocoon, acabou não colaborando com o filme. Fonte: McQuarrie Almost Brought The Power of Greyskull To 'Masters of the Universe'
Uma outra série animada do gênero é ThunderCats (1985-1989), ela contava a história de felinos antropomorfizados do Planeta Thundera, que em fuga vão parar no "Terceiro Planeta", onde combatem Mun-Rá e os mutantes Plun-Darr. A série é protagonizada pelo príncipe Lion-O, portador de uma espada mística - o "Olho de Thundera". ThunderCats se parece bastante com os "animes" (desenhos japoneses). A série foi uma produção da Rankin/Bass Productions e o estúdio japonês Pacific Animation Corporation., que mais tarde seria comprado pela Walt Disney e se tornaria Walt Disney Animation Japan.
A "Bíblia da série" (em inglês, story bible, show bible, series bible, documento que serve de referência na produção) foi desenvolvida pelo veterano quadrinista Leonard Starr, que foi o roteirista chefe da série e escreveu 23 episódios, na chamada Era de Ouro dos Quadrinhos, Starr trabalhou na revista Planet Comics da Fiction House, um spin-off da revista pulp Planet Stories. A série teve design de personagens de Minoru Nishida, Tsuguyuki Kubo, Jim Meskimen, Bob Camp, Michael Germakian, Pepe Moreno.
Essas parceria também produziu as séries SilverHawks (1986) e TigerSharks (1987), essa última não exibida no Brasil, no reboot de ThunderCats produzido em 2011, eestabeleceu que ambas as séries são ambientadas no mesmo universo, embora os personagens não tenham se encontrado, já que o reboot foi cancelado e teve apenas uma temporada.
Na década de 1980, Star Wars teve duas animações spin-offs: Droids: The Adventures of R2-D2 and C-3PO e Star Wars: Ewoks, porém, nenhuma delas se focou nos Cavaleiros Jedi. isso só viria ocorrer em 2003, na série Star Wars: Clone Wars produzida pelo animador Genndy Tartakovsky, conhecido pelas animações O Laboratório de Dexter e Samurai Jack, em 2008, uma nova série foi lançada com o mesmo título, dessa vez em CGI.
Em 2016, a DC Comics anunciou um crossover entre He-Man e os ThunderCats, na edição 132 da Wizard, foi publicado na coluna Last Man Standing (que publicava crossovers que não existiam, tais quais as fanfics), um encontro entre He-Man e os ThunderCats, com arte de Ed McGuinness, que na época, ilustrava os quadrinhos de ThunderCats para a Wildstorm (editora criada por Jim Lee que virou um selo da DC).
Também 2016, a loja de brinquedos Super7 lançou um episódio inspirado na série He-Man da Filmation durante a San Diego Comic Con.
Em novembro de 2018, a Netflix lança a série She-Ra and the Princesses of Power, desenvolvida pela quadrinista Noelle Stevenson e produzida pela DreamWorks Animation Television.
Em agosto de 2019 é anunciada uma nova série de He-Man, Master of the Universe: Revelation, produzida pelo roteirista Kevin Smith e a produtora Powerhouse Animation e em dezembro, a Netflix também anunciou um reboot em CGI. A série de Kevin Smith foi lançada em julho de 2021, é tratada como um revival da série dos anos 80, mas tem elementos de várias fontes, como brinquedos, quadrinhos e até mesmo a série de 2002.
Confira a Parte 2
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